Retomando o tema da semana passada, o eleitor brasileiro sabe votar? Está aprendendo. Mas ainda falta muito. As opções que deixou para o segundo turno das eleições presidenciais é a grande prova. Bolsonaro e Haddad. Poderia haver oferta pior? Claro que não. Qualquer um dos candidatos derrotados seria melhor. Ciro, Alckmin, Marina, Álvaro, Meirelles e até Boulos. Entre Bolsonaro e Haddad quem seria o menos pior? Haddad, sem dúvida, não fosse a horda de malfeitores que traz na retaguarda, a partir do prisioneiro de Santa Cândida.
A julgar pelo caminhar da carruagem, o capitão aposentado levará o pleito de goleada. E o Brasil vai arrepender-se amargamente. Lamento, amigos Rui, Diniz, Benedito, Felipe, Renato e tantos outros cultores do ex-homem da farda, mas vocês desgraçadamente vão ver.
Aliás, esse será um filme que já vimos, um misto de drama, tragédia e horror, de longa duração e difícil, muito difícil, final. Tem muito sofrimento na tela, muita lágrima derramada e muita morte absurda. Sinceramente, nunca pensei que voltasse ao cartaz.
Nos idos de 1964 foi mais ou menos assim. Decepcionada, irritada e assustada com o governo, a população foi às ruas. Marchou com Deus pela Liberdade contra a corrupção e os comunistas e aplaudiu os soldados que deixaram os quartéis para assumir o poder. Era para ser coisa passageira, apenas para a faxina. Durou 21 anos e não deixou nenhuma saudade. Como pode ser esquecida tão pouco tempo depois? Só Deus sabe. Deus não; o Diabo.
Quem é Jair Messias Bolsonaro? Segundo o (ou a?) Wikipédia, é um militar que passou para reserva em 1988, no posto de capitão, nascido no município paulista de Glicério, em 21 de março de 1955. Formou-se na Academia Militar de Agulhas Negras em 1977, onde serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo. É deputado federal desde 1991, atualmente no sétimo mandato, eleito pelo Partido Progressista de Paulo Malluf e outras figurinhas do mesmo naipe da política brasileira. Hoje, é filiado ao Partido Social Liberal (PSL). Durante os seus 27 anos como congressista, ficou conhecido pela personalidade controversa, visão política populista, de extrema direita, com simpatia pela ditadura militar e por práticas de tortura.
Alguma atuação na Câmara dos Deputados em favor da população ou de seus eleitores? Nenhuma. Projetos de governo? Nenhum. É vazio de conteúdo, não sabe bem o que fará na chefia da nação, mas quer chegar lá. Não sabe nada de administração pública, não entende nem quer entender de economia. Entregou tudo a Paulo Guedes, fundador do Banco Pactual, que ganhou notoriedade quando pagou a lua-de-mel de Aécio Neves e teve o seu então presidente executivo André Esteves preso em 2015 pela Polícia Federal.
Bolsonaro é contra a corrupção?! Eu também sou, mas nem por isso pretendo ser presidente da República. Vai combater a violência reinante no país? Vai coisa nenhuma. Combater a violência com violência só gera mais violência. Na política do bate a arrebenta, acabamos todos machucados. Redução da carga tributária? Farsa. Não há governo que queira reduzir tributos. Ao contrário, está sempre a cata de novos. Guedes já sinalizou com a volta da maldita CPMF, declarou-se contrário aos reajustes automáticos de salários e favorável à privatização de estatais como a Petrobras.
Por que Bolsonaro não comparece a debates? Porque não é bobo. Sabe que não tem o que dizer e que qualquer bobagem pronunciada poderá por tudo a perder. Ganha com o silêncio, pois já tem um eleitorado adestrado pronto para elegê-lo.
E, como bem disse o jornalista Sérgio Rodrigues, o ódio tem tudo para ser a palavra-chave da futura administração Bolsonaro. Aliás, encontra-se presente, desde já, na equipe eleitoral do capitão e naqueles que pregam a sua vitória. Se isso é necessário para combater “o que está aí”, estamos fritos. Ou, por outra, como se dizia outrora, pularemos da frigideira de óleo fervente para o fogo.
De salvadores da pátria, aliás, temos exemplo mais recente. Aquella figura de olhos esbugalhados, que veio das Alagoas para combater os marajás, moralizar o país, confiscar a poupança popular e encher as burras com o dinheiro público.
Ah, sim, antes que me esqueça: no tempo do governo dos generais, havia corrupção sim. Muita. Velada, sem o conhecimento da opinião pública, já que a imprensa era proibida de divulgar e o Judiciário sob controle. Os homens de coturno não precisavam de esquemas para se manter no poder. Julgavam-se intangíveis. Então, preferiam abarrotar as estatais com militares da reserva e proteger o Brasil e os brasileiros dos perigos da liberdade e da democracia. Tudo como o capitão da reserva parece querer voltar a fazer…