O PT é bastante experiente e seus dirigentes têm senso de oportunidade quando isso lhes convém. Do mesmo modo, a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann, sabe agir com pragmatismo quando precisa disso para se livrar de encrenca ou tirar proveito político. Fez isso, por exemplo, na última eleição, quando manteve a imagem de brigadora pela causa, mas espertamente recuou nas pretensões pessoais, deixando de tentar a reeleição para o Senado e saindo candidata a deputada federal, numa disputa em que a máquina do partido faz a diferença de forma mais efetiva. Nesta opção, conseguiu também trabalhar politicamente um eleitorado menor, mais simpático à relação intensa dela com o presidiário Lula.
A ex-senadora e agora deputada é uma espertalhona, neste caso muito mais habilidosa que, por exemplo, Roberto Requião. O ex-senador pelo Paraná resolveu enfrentar a parada pela reeleição, mesmo com o risco de ter passado todo seu mandato colado à Lula e depois ao governo Dilma Rousseff, tendo atuado também contra o impeachment e por consequência mantendo-se na memória do eleitor como cúmplice do desastre político e social que todo mundo conhece muito bem. Chega a ser engraçado ver Requião, em vídeos feitos após a derrota, reclamando de terem ligado sua imagem ao PT. Pois foi exatamente este risco que Gleisi não correu, desistindo de tentar uma reeleição em um estado onde o PT não é bem visto.
Essa capacidade de precaução e o tremendo senso de oportunidade se choca com a viagem de Gleisi Hoffmann para a posse de Nicolás Maduro, prestigiando um dos governantes mais repudiados mundialmente. E cabe destacar que foi como presidente do PT que a deputada levou o apoio ao ditador venezuelano. Qual é o sentido de um gesto desse numa situação tão complicada para o partido do Lula, agora na oposição a um duro adversário no Brasil?
Até parece um erro, mas não é bem assim. Gleisi Hoffmann, Lula e os demais dirigente do PT sabem muito bem que a presença do partido na posse de Maduro é mais uma nódoa a impregnar a imagem petista. Vai se juntar às tantas outras manchas que desacreditam os petistas nos mais variados assuntos. Hoje em dia, petista não tem credibilidade para fazer crítica alguma. Qualquer simpatizante do PT que tenta apontar defeito mesmo nos piores adversários sabe do que estou falando. Sempre aparece algo pior que o PT já fez.
A presença de Gleisi Hoffmann como presidente do PT na posse do ditador Maduro lembra muito o beija-mão a Fidel Castro, feito por Lula e depois por Dilma Rousseff como presidente, em clima de veneração e obediência. Eram cenas que politicamente seria melhor serem evitadas, por isso deve-se suspeitar que o regime cubano tinha poder suficiente sobre o PT que exigia a presença dos dois governantes brasileiros. Era uma obrigação. É provável que um dia ainda apareçam as provas que expliquem tamanha afeição, até hoje protegidas pelo regime castrista numa muito bem guardada caixa preta que quando for aberta determinará a mais triste desonra da esquerda brasileira.
A relação intensa do PT com um regime político como o de Maduro talvez possa ser explicada, da mesma forma, também pelos laços anteriores que mantém o chavismo com o controle sobre o partido de Lula presidido pela deputada Gleisi. São misteriosas interações políticas e financeiras, não se sabendo ainda de que montantes e com quais implicações pessoais. Só muito rabo preso, em reprováveis relações subterrâneas, pode justificar o apoio a um regime nefasto, repudiado de uma forma quase unânime em todo o mundo. No rescaldo do desastre provocado pelo chavismo na Venezuela ainda aparecerá uma caixa preta com as revelações do passado, mostrando ao mundo os laços dessa paixão política que torna inseparáveis o PT e o governo Maduro.