Os rolos de Flavio Bolsonaro e suas tentativas de botar medo na imprensa

O ex-deputado estadual pelo Rio e atual senador Flavio Bolsonaro disse que vai processar o jornalista Ancelmo Gois. A razão alegada pelo filho de Jair Bolsonaro é uma nota publicada em O Globo, na qual, ainda conforme diz o político, o colunista “afirma que eu apoio a milícia”.

Em sua coluna em O Globo, Ancelmo escreveu o seguinte: “A milícia – que tem apoio em setores políticos, como mostrou o recente rolo do senador Flavio Bolsonaro – constrói prédios como esses que desabaram na Muzema, alguns até de oito andares, sem licença da prefeitura e com a conivência de setores da Justiça”.

Vamos ver se de fato o senador do PSL levará à frente o que promete. Porém, sua ameaça parece mais uma jogada para levantar um factóide e amenizar o estrago em sua imagem, além de atiçar as tropas bolsonaristas contra Ancelmo e por extensão intimidar a imprensa. Flavio deve saber da difilculdade de obter sucesso em uma ação na Justiça.

É botar medo em seus críticos a verdadeira intenção do senador que quando era deputado tinha o famoso ex-policial Fabrício Queiróz como assessor de seu gabinete, com seus rolos ainda não explicados que envolvem depósitos muito suspeitos, com R$ 1,2 milhão registrados pelo Coaf como “movimentação atípica”. Foi registrado também um cheque de 24 mil reais para a atual mulher de seu pai, Michelle Bolsonaro.

O gabinete de Flavio na Assembleia fluminense também empregava em cargos comissionados parentes do ex-policial Adriano Magalhães Nóbrega, acusado de chefiar uma das milícias mais poderosas do estado, que domina pela violência Rio das Pedras, na zona oeste da cidade. Acusado de homicídio e expulso da Polícia Militar, Nóbrega teve mandado de prisão expedido em janeiro na Operação Intocáveis, da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio. Ele está foragido.

Nóbrega também foi homenageado por Flavio na Assembleia fluminense em 2003, por sua atuação como policial. Ele recebeu a Medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do estado. A homenagem foi em razão de uma ação violenta da polícia.

Mas, enfim, como eu disse, não acredito que o texto escrito pelo senador no Twitter, com a ameaça ao jornalista, tenha de fato um objetivo jurídico. Na mesma mensagem, Flavio sugere que sejam enviadas cartas à redação de O Globo criticando Ancelmo e indica até o tema: a relação que o jornalista pode ter com as falcatruas de Sérgio Cabral, por ser velho amigo do pai do ex-governador, o grande jornalista Sérgio Cabral, que foi inclusive um dos criadores do semanário O Pasquim. Evidentemente ele nada tem a ver com os crimes do filho político.

Isso que o senador fez costuma ser um sinal para o acionamento da violenta militância bolsonarista nas redes sociais e pode servir também como um estímulo para que o jornalista seja abordado em público por bolsonaristas. Todo mundo sabe como a vida de uma pessoa pode virar um inferno com esse clima de intimidação.

Ancelmo já vem sendo vítima de ataques desse tipo. Essa história da KGB começou com Olavo de Carvalho, que, por sinal, já foi também agraciado com a Medalha Tiradentes por Flavio Bolsonaro. Quando o então ministro Ricardo Vélez Rodríguez e Olavo ainda se davam bem, o Ministério da Educação chegou a divulgar uma nota oficial em resposta ao colunista de O Globo, fazendo alusões despropositadas à KGB, como se o jornalista tivesse manipulado uma informação da mesma forma que fazia este organismo de repressão do comunismo soviético.

A intenção era a de criar um paralelo com a militância política de Ancelmo no Partido Comunista Brasileiro no passado e seu exílio na extinta União Soviética na época da ditadura militar brasileira, história relatada pelo próprio em entrevista para a ABI. Já vai para décadas o rompimento do jornalista com o PCB e ele nunca atuou para a KGB. No entanto, nas narrativas fraudulentas desse pessoal ligado ao governo Bolsonaro a verdade não importa nem um pouco.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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