Dinheiro, diz lá a Enciclopédia Britânica, é aquilo que usamos para pagar coisas. Dinheiro, afirmo eu, é aquilo que o trabalhador ganha com o suor do seu rosto, que os estróinas esbanjam nas buates, que o herdeiro recebe como herança, que o economista trata como ciência, que a dona de casa teme que seu marido não vá ganhar o bastante para as despesas do mês.
Dinheiro é aquilo com que o Coronel atrai a mundana, é o que se imprime na casa da moeda, o que os banqueiros emprestam a juros e os usurários a juros ainda maiores, o que os falsários falsificam, o que não vale nada nas épocas de inflação, o que corrompe como subôrno e o que redime como filantropia. Dinheiro é o que as mulheres não sabem nem querem saber de onde vem, os maridos não sabem onde buscar, o rico não sabe quanto tem, o pobre jamais tem o suficiente e o comunista não tem o mínimo necessário. Dinheiro é o talento dos poderosos, o legado dos que partem para sempre, o prêmio da economia, o objetivo dos ladrões, o poder do capitalismo. Para os racionalistas é um preconceito como outro qualquer, para os inconformistas é um mal que deve ser estirpado da sociedade. É a dor do mendigo verdadeiro e o desespêro falso do mendigo falso que quer tomar uma sopa falsa, que sabemos vendida em garrafa.
O dinheiro é um mito de tal forma acreditado que se transformou numa super-realidade, uma senha para o respeito alheio, e se já foi boi na antiguidade hoje é tão limpo quanto fôr o cheque que você tem no bôlso. É viagem e tranqüilidade e que se não traz felicidade pelo menos paga tudo que esta gasta.