REVENDO À DISTÂNCIA, como fazem os historiadores responsáveis, quero crer que o ministro Dias Toffoli pediu a censura do site Antagonista e da revista Crusoé por motivo diferente daquele que pareceu a todos: o vazamento do depoimento de Marcelo Odebrecht na Operação Lava Jato. Ali, Odebrecht referiu a intervenção de um “amigo do amigo de meu pai”. Uma frase infeliz, que remete à cultura mafiosa.
Tudo indicava, e assim transpareceu na ordem do ministro e colega Alexandre Moraes, que se imputava ao presidente do Supremo a participação em falcatrua, facilitação, tráfico de influência. Era o que transparecia, pois é isso que faz a Lava Jato, era isso que fazia a Odebrecht. A menção a amigo de amigo reforçava a suspeita: Toffoli, Lula e Emílio Odebrecht – o amigo do amigo e o pai.
Mas a motivação de Toffoli foi outra, bem outra, e digamos que o deixa pior na fotografia que a simples referência à amizade da amizade com a amizade. O ministro presidente do Supremo superou a amizade com Lula faz tempo, essa amizade é porta fechada em sua vida, ficou para trás. O ministro Toffoli fez como são Pedro, que negou Cristo três vezes. O ministro pode não ser santo, mas Lula é divino.
Se o presidente do Supremo foi amigo de Lula, a amizade acabou no momento em que o ministro assumiu a curul de magistrado. Aquilo que o ministro Delfim Netto dizia dos ministros da corte: eles não têm passado, só futuro. A ação de Toffoli, portanto, foi na linha de preservar seu futuro. As nódoas do passado foram sanadas nos santos óleos da confirmação pelo Senado.
Se me for permitido a remissão histórica, diria que Toffoli fez em relação a Lula o mesmo que Aristóteles fez com Platão, seu mestre. Acusado de contradizer o mestre, Aristóteles rebateu: Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade, na frase que nos chega pelo latim: “Amicus Plato sed magis amica veritas”. Toffoli pode ou não ser amigo de Lula. Mas é mais amigo da verdade. Ou mais inimigo da mentira. Tanto faz.