A morte de Quentin Fiore prova que o mundo não ficou tão instantâneo assim
Em 1968, um professor canadense chamado Marshall McLuhan lançou nos EUA seu livro “The Medium is the Massage”. O “massage” do título era um trocadilho envolvendo a mensagem propriamente dita e a massagem —a surra— que já estávamos tomando dos meios de comunicação. E rimava também com “mass age”, a era das massas que julgávamos estar vivendo. McLuhan queria dizer que os meios pelos quais recebíamos a informação eram mais importantes do que a informação em si. Só isso já tornava o livro revolucionário.
Mas aí é que está. O que o fazia apaixonante era o seu incrível projeto gráfico, a cargo do designer Quentin Fiore. O importante não era o que o livro dizia, mas o livro em si. Algumas páginas vinham impressas de cabeça para baixo. Outras só podiam ser lidas se postas diante do espelho. E outras eram escritas em gótico arcaico ou eram reproduções de quadrinhos, manchetes de jornais, cartuns, cartazes, cenas de filmes. O meio era a mensagem.
Bem, isso foi há 50 anos e, hoje, várias de suas afirmações ficaram discutíveis. McLuhan dizia que os meios eletrônicos seriam extensões de nós mesmos. Mas não foi o contrário? O ser humano não se tornou uma extensão de seu celular? E o conceito da aldeia global, em que ficaríamos sabendo das coisas no momento que acontecessem e todos ao mesmo tempo? Realizou-se?
Será que, para pensarmos sobre isto, era obrigatória aquela barafunda visual? Eu, por exemplo, nunca li o que estava escrito nas páginas ao contrário, porque nunca as botei diante do espelho —e não fez diferença. O livro virou um produto típico de 1968, em que as coisas mais simples tinham de vir embaladas em fórmulas complexas, como o coquetel de camarão, o vestido tubinho e o concretismo.
Quentin Fiore morreu há um mês, aos 99 anos. Só agora a notícia circulou. O mundo, afinal, não ficou tão instantâneo assim.