Bolsonaro revoga Lei da Gravidade

Empenhado em substituir toda metodologia científica pela experiência pessoal das pessoas que o cercam, Jair Bolsonaro assinou um decreto extinguindo a Lei da Gravidade.

“Eu e o Osmar Terra ficamos meia hora debaixo de uma árvore e nenhuma maçã caiu na nossa cabeça. Esse negócio de gravidade só pode ser mais um estudo enviesado da Fiocruz para empoderar um fruto vermelho”, explicou o presidente, enquanto chupava uma laranja.

Bolsonaro apresentou um projeto para transformar a Fiocruz em uma imensa loja da Havan. “Aquele castelo que parece coisa de russo comunista vai dar lugar a uma estátua da Liberdade”, mostrou em uma maquete.

Emocionado, o presidente prometeu: “Vou transformar a Estação Ecológica de Tamoios na Cancún brasileira e a Fiocruz na Havan brasileira”. Ao ser informado que a Havan já era uma loja brasileira, Bolsonaro retrucou: “Tem prova disso? Você é da da imprensa, né? Fake news!”.

Em seguida, o presidente sentiu-se confortável para corrigir o princípio da inércia. “Tem que tirar a ideologia disso aí também. A partir de agora, nas escolas, os alunos vão aprender que inércia é o que acontece nessas ONGs parasitas, nos acampamentos do MST e nas reservas de terra de indígenas e quilombolas”, resumiu.

“Outra babaquice é aquela de que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo”, prosseguiu. “O cidadão de bem que fizer uso de sua arma de fogo ainda vai ter que se preocupar em separar os corpos? Nenhum país desenvolvido faz isso.”

Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, concordou. “Tem coisas que a gente só aprende com doutorado sanduíche em Harvard”.

Em homenagem a Witzel, Bolsonaro assinou um decreto autorizando o porte e a posse de diplomas de Harvard para todo o brasileiro que apresente o desejo de estudar na instituição.

Como embasamento para suas decisões, Bolsonaro citou seu mestre Olavo de Carvalho: “É incrível a rapidez com que os brasileiros arrotam conclusões gerais definitivas sobre problemas complexos sem nem pensar em como examiná-los parte por parte”. Na sequência, revelou que seu guru comprou uma TV tela plana e descobriu que o aparelho era redondo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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