Nasce um novo gênero —musicais em que a música não tem muita importância
Os números são de estarrecer. Há dez anos a Broadway —41 teatros ao redor de Times Square— cresce 10% ao ano. Na última temporada, ela vendeu perto de 15 milhões de ingressos e arrecadou quase US$ 2 bi só de bilheteria. Alguns desses dólares podem ter vindo de nós —63% da plateia da Broadway são turistas, que chegam a Nova York com os ingressos comprados e os ônibus despejam na porta dos teatros. Só uma fração desses turistas entende inglês, mas isso não importa. O que eles assistem são musicais infantojuvenis como “The Lion King”, “Aladdin” e “Beetlejuice”, com pouco diálogo, muitos efeitos especiais e alguma música.
Os atuais produtores teatrais não trocariam esta Broadway pela Broadway clássica, de 1920 a 1970, quando ela ainda era uma operação estritamente nova-iorquina —sua plateia era de americanos adultos, que trabalhavam nos escritórios próximos, gostavam de música e riam na hora certa ao ouvir os diálogos. Um espetáculo muito bem-sucedido ficava quatro ou cinco meses em cartaz.
E, sendo um musical, o importante era a música. Foi para um musical da Broadway que Vincent Youmans compôs “Tea for Two”; Kurt Weill, “Speak Low”; Jerome Kern, “Ol’ Man River” e “Smoke Gets in Your Eyes”; George Gershwin, “Embraceable You”, “The Man I Love” e “Summertime”; Rodgers & Hart, “Manhattan”, “The Lady is a Tramp” e “My Funny Valentine”; Rodgers & Hammerstein, “My Favorite Things”, “Getting to Know You” e “Some Enchanted Evening”; Stephen Sondheim, “Send in the Clowns”, “Losing my Mind” e “Being Alive”; e Cole Porter, “All of You”, “Begin the Beguine”, “I’ve Got You Under my Skin”, “Just One of Those Things”, “Night and Day” e “I Love Paris”.
Foram canções desta qualidade que formaram o cancioneiro americano, que atravessou o século. Não sei de canções equivalentes na Broadway dos últimos 30 anos.
Talvez por isso ela esteja tão rica.