Trevas à vista

NA SUA CRUZADA contra a ideologia de gênero, Jair Bolsonaro decide que o registro civil de nascimentos (e o registro de identidade, o de casamentos, etc) substituirá o vocábulo genitor pelos de pai mãe. Em bom bolsonarês significa acabar com essa pouca vergonha de casamentos, filiação e parturição de casais homossexuais.

Tais situações estão consolidadas, constituem realidades sociais e decorrem da crescente e intensa definição de identidades de gênero – em todo o mundo, excetuados países islâmicos, radicais ou não. O Brasil já atua nessa direção com o alinhamento recente de nossa diplomacia na ONU exatamente na questão de gênero e não por acaso com os estados fundamentalistas.

O humano para Jair Bolsonaro e as trevas pentecostais que o seguem divide-se entre masculino e feminino. Não há meio termo possível, crise de identidade de gênero, transsexualidade, essas coisas a quem as correntes evangélicas radicais já propuseram a absurda cura gay. Aliás, apesar das contraindicações científicas, não é impossível que o presidente Bolsonaro inclua a cura entre as prestações ofertadas pelo SUS.

Bolsonaro já deve ter aprendido na presidência aquilo que não aprendeu nas três décadas como deputado: terá que fazer lei para estabelecer os dois sexos oficiais – e para ele conformes à natureza – e reprimir as tendências – já consolidadas – em sentido contrário.

Pior que isso pode acontecer, levando o Brasil ao ridículo do mundo civilizado. Mas não é impossível, considerando que Bolsonaro foi eleito por aqueles que não ignoravam sua natureza obscurantista, regressista, retrógrada. Com ele uma maioria de igual natureza e qualidade no Congresso, que pode convalidar esse ponto da pauta do atraso.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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