Nunca ninguém conseguiu, com tão poucas palavras, definir tão bem um personagem da história pátria como fez o nosso Rogério Distéfano ao referir-se, neste espaço, ao capitão reformado Jair Messias, ora no uso e nas atribuições de presidente do Brasil:
“Quando nosso capitão solta a língua desabrida e incontrolável o universo se encolhe de vergonha. O Brasil passa vexame com o presidente que fala sem medir consequências, que não pensa antes de falar porque não consegue pensar com lógica e lucidez, apenas jorrar preconceitos do inconsciente, a parte operacional de seu cérebro. A ciência tem nome para a coisa: ‘non compos mentis’.”
Perfeito. Distéfano foi direto no alvo, como de costume. Como a mente de Bolsonaro não funciona, cada vez que ele abre a boca sentimos todos, no mínimo, um frio na barriga. O homem é incontrolável e insuperável. Sonha com um mundo que não existe. No mundo dele, todo mundo marcha (armado) em ordem unida. Ideologicamente alinhados à direita, são todos “terrivelmente” evangélicos e só dizem e fazem coisas que lhe agradam. “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos…” No mais, Jair Messias “está fechado” com Trump “na questão do Irã”. Tremei, Hassan Rohani!!!
E assim o capitão vai desfilando besteiras, uma pior do que a outra. Ou como diz a Folha de S.Paulo, em editorial, supera-se na capacidade de produzir disparates. Só nos últimos dias, depois do anúncio do filho 03 como embaixador do Brasil em Washington, desqualificando o Itamaraty e desprezando toda a carreira diplomática, desmoralizou o INPE – Instututo Nacional de Pesquisas Espaciais e ofendeu os nordestinos ao chamá-los pejorativamente de “paraíbas”. Foi além: garantiu não haver desmatamento no Brasil e que aqui ninguém passa fome (!)…
No seu entender, os dados sobre o desmatamento no Brasil devem passar antes pelo seu crivo para ele não ser “pego de calças curtas”. Tais informações devem chegar previamente ao seu conhecimento para que “possamos tomar decisões precisas”. Quer dizer: divulgar só o que lhe é interessante.
Quanto à fome, para o presidente quem fala que passa fome é “um grande mentiroso”. E garante que nunca viu “nenhum pobre pelas ruas com físico esquelético”. Por onde andas, ó Messias?!
Arte e cultura, então, aterrorizam-no. O filme “Bruna Surfistinha”, que ele não viu e não gostou, passou a ser coisa do demônio. Por isso, cortou a verba da Ancine e a ameaça de extinção, esquecendo que foi a agência que liberou R$ 500 mil para um documentário sobre o próprio.
Será que o capitão acha que os brasileiros são todos idiotas? Por favor, excelência, não nos julgue pelos vossos eleitores.
Aliás, gostaria de saber o que estão achando, sete meses depois, os sufragistas de Bolsonaro, aqueles que, por ingenuidade, má-informação ou raiva do petismo, votaram nele e o entronizaram no Palácio do Planalto.
Uma coisa é certa: o Brasil não aguentará Jair Messias até 2.022. Do jeito que vai, não aguentará nem até o fim do ano, deste ano.
Aí, vem-me à mente as lições de latim do ginásio e a indagação desacorçoada de Marcus Tulio Cícero ao colega Catilina, no Senado romano: “Quosque tandem abutere Catilina patientia nostra?” A frase dispensa tradução, mas se fizerem questão, poderá ser a seguinte: Até quando abusaras, Bolsonaro, da nossa paciência?
Vou repetir o que já disse aqui algumas vezes: Jair Messias Bolsonaro não tem a mais mínima condição de governar o Brasil. Não tem a menor consciência do que seja a presidência da República. E nem prefeito poderia ser. Foi deputado, por graça dos cariocas, mas, em quase trinta anos de mandato ninguém notou a presença dele na Câmara Federal.
O sistema político-eleitoral brasileiro tem uma falha gritante: ainda que presidencialista, deveria prever a possibilidade de retirada do trono de mandatário canhestro, incompetente, imprudente, mal-intencionado ou temerário. O eleitor que o elegeu deveria poder cassá-lo. Em nome da segurança e da vergonha nacionais.