A Caverna dos Destinos Cruzados

Mônica Berger e Sérgio Viralobos (Divulgação)

Ao ler A Caverna dos Destinos Cruzados me veio à mente: o clássico é o pop do passado. E na sequência dessa ideia (prepare-se, você vai ter muitas diante do impacto da obra) intuí que o charme desse pop que não passa, o segredo do tal do clássico, está na multiplicidade das leituras que permite, estimula e induz, geração após geração. A Caverna dos Destinos Cruzados tem essa característica na receita, a de ser construído em diversas camadas, da superfície às profundezas – e além.

Pode ser lido como a emocionante história de amor, na qual um casal é levado a viver deliciosas e terríveis aventuras no maravilhoso mundo paralelo dos arcanos do tarô. Mas, aceitando o desafio e mergulhando um pouco mais, descobrirmos que por detrás deste primeiro véu existe uma conjugação de forças, um turbilhão de significados, uma galáxia de símbolos em movimento vertiginoso.

O enredo é apenas o primeiro estrato que, com sua extrema beleza, nos atrai para o salto em direção a uma visão mais profunda das coisas da vida, do mundo, ou seja, de nós mesmos.

Com malícia e precisão, Mônica Berger e Sérgio Viralobos montaram A Caverna dos Destinos Cruzados camada sobre camada e deixam quem desvenda a esfinge seguir viagem até o próximo enigma. Apenas como tira-gosto, vamos a algumas dessas pistas, sem intenção de esgotar a conta.

Sabemos que, na Divina Comédia, Dante convoca Virgílio para guiá-lo pelos caminhos do inferno, do purgatório e do céu – um clássico dentro do clássico.  Em A Caverna dos Destinos Cruzados, Mônica Berger e Sérgio Viralobos escalaram Italo Calvino para esse papel de mestre de cerimônias, nos dando as pistas de outra leitura, outra surpresa, novo prazer.

Então, de repente, aumentando ainda mais o torque da perfuratriz, nos atiram sem dó às feras do tarô, que a dupla de heróis, Pan e Lobo, joguete na mão de deuses implacáveis, precisam, como Hércules, clássica e eternamente, enfrentar.

Outra excelente possibilidade é ler a obra simplesmente (?!) como texto narrativo tecido com grande poesia e um inesgotável e saborosíssimo elenco de referências filosóficas, musicais, políticas, mitológicas, literárias, científicas, esportivas, psicanalíticas. Nada é texto e tudo é contexto nesta imensa teia de inter-relações.

Nele, tudo é pop, muito pop, clássico, muito clássico, instigante para o agora, misterioso para o depois e sem data de validade, como convém.

E a receita dos sentidos não para por aí, pois a própria concepção do livro, a quatro mãos, já traz em si outros signos. Quis o destino que no meio do caminho dessa vida se cruzassem na mesma caverna a Monica Berger, que pilotou por muitos anos o lendário blog Palavra de Pantera e o Sérgio Viralobos, de nome autoexplicativo.

E quando decidiram escrever, entraram de cabeça, carne e ossos na empreitada, fazendo deles mesmos as personagens Pan e Lobo, mergulhadas nesta aventura de encontros e desencontros, começos e recomeços, a caminho da redenção, como um clássico. Ou um bom faroeste.

Primavera nos Olhos: Lançamento de “Poemas de Amor Ainda”, de Antonio Thadeu Wojciechowski e “A Caverna dos Destinos Cruzados”, de Monica Berger e Sérgio Viralobos. Show  da Orquestra Sem Fim. – 20 de setembro, às 20h – Jokers (R. São Francisco, 164 – Entrada franca

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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