Um árbitro invisível analisa o lance duvidoso, apita e não tem conversa
Há 30 ou 40 anos, meu amigo Hans Henningsen —conhecido no mundo do futebol como Marinheiro Sueco, apelido dado por Nelson Rodrigues— teve uma ideia revolucionária: instalar no braço dos árbitros e bandeirinhas um dispositivo que lhes permitisse comunicar-se durante o jogo. Se algo duvidoso acontecesse no seu território, como uma falta, um escanteio, uma bola dentro ou fora, e passasse despercebido pelo juiz, o bandeira acionaria um botão que daria um choquinho no braço do colega. Alertado, este iria a ele e seria informado da irregularidade. Já era quase um VAR, só que humano.
Hans era, então, o representante da poderosa Puma no Brasil e vivia entre o Rio e a Europa. Numa dessas, pode ter falado sobre isso com um dos cartolas da Fifa ou da Uefa com quem se dava. E este, quem sabe, gostou da ideia porque, décadas depois, a máquina do choquinho apareceu no braço dos juízes. O querido Hans, naturalmente, nunca viu um centavo por isso.
Surge agora, não sei de onde, uma ideia que, se adotada, ameaça dispensar os árbitros, os bandeirinhas e o próprio VAR. Trata-se do juiz eletrônico. Seria um banco de dados em local incerto, contendo milhões de imagens de jogos e capaz de compará-las com as da partida em andamento —estas, capturadas, imagino, por drones filmando em 3D. Qualquer lance suspeito, como um carrinho, uma cotovelada, um pênalti, seria analisado e decidido em dois segundos. Um apito, também eletrônico, trilaria e fim de papo.
Será, de novo, a objetividade da tecnologia contra o imponderável humano. Em 1938, Leônidas da Silva, centroavante do Flamengo e da seleção brasileira, teve um gol de bicicleta anulado porque o juiz nunca vira aquilo —e, como nunca vira, achara que era ilegal.
Como os jogadores não param de inventar jogadas, os juízes eletrônicos logo descobrirão que também podem ser apanhados no contrapé.