Joice Hasselmann e o governo dos bocas-sujas

A deputada Joice Hasselmann postou um vídeo na internet em resposta ao colegas governistas que andam falando dela depois da sua destituição por Jair Bolsonaro do cargo de líder do governo no Congresso. Na gravação, a deputada responde especialmente ao deputado Eduardo Bolsonaro, refutando acusações que o filho do presidente vem fazendo. Esta briga é uma daquelas de pegar a pipoca para assistir, porém mesmo sem confiar em nenhum dos lados é possível constatar que Joice desmente Eduardo com fatos.

O jogo é sujo de ambos os lados, no entanto na briga feia que vem desde o início de mais esta crise no governo, o filho de Bolsonaro procura desconstruir a imagem da colega de uma forma que qualquer um que venha acompanhando a política nacional sabe que não tem relação real com o que já foi notícia. Mas a deputada Joice sabe se defender bem e também é perigosa no ataque. E mesmo quem não gosta dela não tem como discordar que seu espaço político se deve a um esforço pessoal e não à proteção paterna. Além dessa diferença essencial, os fatos lhe dão vantagem em relação ao filho mimado de Bolsonaro.

Esta é uma briga que não se deve apartar. A troca de porrada entre os dois tem a utilidade de revelar coisas que não viriam a público se não houvesse o estranhamento. Do vídeo de Joice, a informação interessante é sobre os bastidores do governo comandado por Bolsonaro, que segundo ela diz é um ambiente da maledicência e do palavrão. Para refutar Eduardo Bolsonaro em seu mimimi sobre os xingamentos a Bolsonaro que apareceram em áudio de reunião de seus adversários no PSL, a deputada conta que o cotidiano com Bolsonaro e sua equipe é uma permanente baixaria.

Veja o que Joice fala sobre a normalidade das discussões no governo: “Eu estou ali no meio [do governo]. Palavrão ali é praticamente interjeição, xingamento é interjeição, é ponto e vírgula, é exclamação. Quantas vezes pessoas com mandatos, governadores, senadores, foram xingados de coisas até mais pesadas em reunião internas, que ninguém gravou”.

Não é que não desconfiássemos da baixaria nos bastidores deste governo, mas é importante ouvir esta confissão de uma pessoa que até há pouco fazia parte da cúpula governista. O que Joice traz pode ser definido com a expressão “informação de cocheira”, neste caso até literal, dado às patadas que ela afirma ser a normalidade nas conversações de trabalho em torno de Bolsonaro. Curiosamente, a grosseria é mais uma aproximação de Bolsonaro com os hábitos de Lula e seus companheiros de partido, que na intimidade também eram extremamente grosseiros ao tratar das questões da política nacional.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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