Zé da Silva

O menino de pele branca ainda está lá, embaixo d’água, olhos atentos, cabelo de milho, voz a agradecer a missa que mandamos rezar perto da casa dele, pois pediu para uma colega da escola depois que mergulhou e não voltou. Foi em sua casa que comecei a sair do gueto que nem sabia existir.

Porque acelerei um carrinho na pista no inimaginável autorama montada no quarto – e embarquei no carrinho para sair do cortiço e voar por aí na vida. Foi com ele também que descobri a vaca preta e o hambúrguer, há mais de meio século – e se alguém falar em americanização ou algo parecido, dou uma cabeçada para o nariz sair pela nuca.

Mais tarde, outro colega de classe a se despedir e submergir durante as férias. Respiro em terra firme e lembro dos dois, sempre, aqui.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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