No início do seu mandato, há menos de um ano e meio, não dois séculos, Jair Bolsonaro havia encorpado a sigla pela qual se elegera, o PSL, e contava com a força dos 57 milhões de brasileiros que viram na sua plataforma anticorrupção um antídoto ao petismo et caterva. Escudado nessa fortaleza, poderia ter angariado apoios mais consistentes no Legislativo e estar agora bem amparado na Presidência da República neste momento de crise.
Bolsonaro, no entanto, resolveu dar ouvidos aos asnos ideológicos que o rodeiam. Confundiu fazer política com render-se ao toma-lá-dá- cá e entrou em confronto permanente com o parlamento, achando que o apoio das ruas lhe seria suficiente para pressionar deputados e senadores a votar de acordo com a vontade do Planalto. Em pouco tempo, foi enxotado do PSL, tornando-se o caso único de um presidente sem partido, não conseguiu formar a sua própria agremiação, perdeu a sustentação de grande parte dos seus eleitores, irritados com os zurros dos asnos ideológicos, enrolou-se com idiotices, alimentou ainda mais as desconfianças sobre a sua crença na democracia — e foi engolido pelo DEM de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre.
Um ano e meio depois da sua posse, não dois séculos, um fragilizado Jair Bolsonaro abraça a velha política, para cooptar o Centrão e tentar conter o DEM, a um preço bem mais caro do que o inicial, não tivesse ele confundido política com conchavo ilícito. O presidente agora tem de dar comida aos porcos, enquanto finge que não faz o que os seus antecessores fizeram, mas com a diferença da trilha sonora dos asnos que zurram por um golpe.
Enquanto o país padece com a Covid-19, o governo vai sendo infectado pelo vírus do pior tipo de gripe suína: o fisiologismo. E esse vírus não fortalece, só enfraquece.