JAIR BOLSONARO baixou decreto liberando mais atividades essenciais da quarentena: agora são as academias de ginástica e os salões de beleza. A justificativa do presidente da República tem rigor cartesiano. Diz ele que as academias auxiliam na saúde, na medida em que reduzem o colesterol; e os salões de beleza por simples questão de higiene, pois as pessoas precisam cortar os cabelos e as unhas. Incluiu os barbeiros, onde há também manicures para aqueles homens que pintam as unhas com esmalte sem cor, como os gigolôs dos anos 1950).
O decreto de Bolsonaro é demagogia para estimular a rejeição do isolamento social e lançar os negacionistas do vírus às ruas, arriscando-se à contaminar-se e a contaminar os outros. Demagogia porque, ainda que seja atribuição do presidente definir atividade essencial, o STF atenuou a regra para permitir que estados e municípios, excepcionalmente, durante a pandemia, estabeleçam áreas e atividades de isolamento sem considerar a regra federal. Vivemos um cabo de guerra entre Bolsonaro e governadores e prefeitos, estes do lado mais forte da corda.
Bolsonaro decidiu sem ouvir o ministro da Saúde, que ficou com cara de tacho ao ser informado pela imprensa. Nem o general que o tutela, o número 2 de seu ministério, sabia do decreto. O Brasil está enfermo também da cabeça, já que perdeu a noção do quase certo e do muito errado, para ter ainda um presidente que conspira a todo o tempo contra a saúde. Pior, também contra a segurança nacional – porque, mais que a falta de academia, cabeleireiro e manicure, os excessos de um presidente inconsequente pode ser mais pernicioso que o vírus que ele libera.