O sol nas bancas de revista

RIO DE JANEIRO – Foi por aí, outubro, novembro de 1967. No rádio, Caetano Veloso cantava que “o sol nas bancas de revista” o enchia de alegria e preguiça. Mas, para uma plêiade de meninos no Rio, aquele verso de “Alegria, Alegria” se ouvia como “O Sol” nas bancas de revista”, referindo-se ao jornal que Reynaldo Jardim acabara de lançar. E por que não? “O Sol” estava nas bancas. A continuação de “me enche de alegria e preguiça” era “quem lê tanta notícia?”. E a namorada de Caetano, Dedé, era “foca” da reportagem. Claro que o sol citado em “Alegria, Alegria” só podia ser o jornal. “O Sol” era um fascinante jornal-escola, feito por estagiários chefiados por pesos-pesados como Reynaldo, Carlos Heitor Cony, Ana Arruda, Otto Maria Carpeaux, Zuenir Ventura, Martha Alencar.

E os colaboradores? Nelson Rodrigues, Chico Buarque, Ziraldo, Henfil, e até eu, que também tinha idade para ser estagiário. Inevitavelmente, durou pouco, quatro ou cinco meses. Mas todos que passaram por ele tornar-se-iam “nomes”; Daniel Azulay, Rosiska Darcy, Nelson Hoineff, Luiz Carlos Sá, Tetê de Moraes, muitos mais. Quarenta anos depois, Tetê, ex-diagramadora do jornal, reviveu “O Sol” num belo documentário. O DVD, cheio de extras, acaba de sair. E uma das atrações é a entrevista com Caetano. Afinal, era ao sol ou ao “Sol” que ele se referia em “Alegria, Alegria” Caetano foi delicado em insistir que não se lembrava.

Mas as datas estão aí. Quando “Alegria, Alegria” foi lançada no Festival da Record daquele ano, a 14 de outubro, “O Sol” já estava nas bancas desde 21 de setembro. Só que a data final de inscrição das canções fora 26 de julho e, nesse dia, “O Sol” era no máximo um lampejo nos olhos azuis de Reynaldo. A citação seria ilustre, mas “O Sol” não precisa dela.

Ruy Castro/Folha de São Paulo –
Enviado por Iara Teixeira

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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