Na boca do mentiroso, o certo se faz duvidoso

A transparência dos dados públicos é dever legal das autoridades.

Quando os agentes públicos deixam de divulgar dados oficiais sobre a pandemia, praticam improbidade administrativa e cometem crime contra a saúde pública.

O governo trata as mortes da pandemia como inevitáveis e mera estatística, passando o problema para municípios e estados, porque não tem condições de resolver o problema de forma nacional.

O Executivo compra o apoio dos parlamentares do Centrão no Congresso Nacional. Em maio foram distribuídos 6 bilhões e 200 milhões de reais do dinheiro público para garantir fartas licitações e a reeleição de prefeitos e vereadores aliados.

As bancadas do boi (agronegócios), da bala (polícias e milícias) e da bíblia (alguns grupos neopentencostais), juntam-se agora a alguns setores da Igreja Católica que recebem verbas para suas emissoras radiofônicas e televisivas – e tudo está aí, para quem quiser ver e ouvir.

Nada diferente dos tempos da ditadura, na qual o autoritarismo foi abençoado pelos setores conservadores da igreja. Os recentes aumentos salariais do topo da carreira das forças armadas são um detalhe nisso tudo.

Agora é a vez da mentira oficial, do ocultamento, do atraso e da negação dos dados das vítimas da pandemia. O pior é a negligência no combate e na tomada de decisões objetivas e ágeis. Já assistimos este filme na epidemia de meningite em 1974.

A venda das estatais, a ciranda do mercado financeiro, a expansão do agronegócio e a devastação da floresta amazônica não podem parar. A reunião ministerial do dia 22 de abril comprovou isto.

Na democracia não existe segredo, tudo deve ser divulgado de forma ampla para que os cidadãos saibam o que se passa no Estado. A liberdade de imprensa cumpre papel importante nesta ampla divulgação. O atual governo combate os dois: a publicidade e a imprensa.

Nos regimes de exceção, o segredo é a regra. Sempre foi.

A indiferença oficial com a pandemia, a troca de dois ministros da Saúde, a característica ditatorial do Executivo e dos filhos do Presidente, a ampla base midiática do gabinete do ódio e das fake news, são uma realidade triste no Brasil.

Poucas instituições admitem isto. A maioria delas finge que nada está acontecendo.

Ensinaram os gregos que “A verdade é filha do tempo, não da autoridade”.

Assim, ocultar os números das vítimas da pandemia é mais um capítulo da tragédia que as instituições insistem em apoiar às custas dos recursos públicos. A ditatura está instalada e pisa na Constituição e nas leis. Quem ousa desafiá-la ou detê-la?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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