Essa liberdade de escolha pelo uso vale para aborto e drogas também?
Há uma profusão de cenas de conservadores americanos metidos em confusão ao se recusarem a usar máscara em locais públicos. Numa reunião em que cidadãos de Palm Beach puderam se manifestar, houve quem dissesse que o direito era o mesmo de não vestir calcinha. Um médico foi “ameaçado” de prisão por crimes contra a humanidade. Não faltaram os argumentos de que é parte de um plano comunista e de que o adereço era contra as leis de Deus. Tudo isso por causa de uma máscara.
Essa mesma politização da Covid-19 está prestes a ter capítulos patéticos no Brasil agora que grandes cidades, como o Rio, entram em nova fase de flexibilização. Já tivemos alguns casos, mas deve piorar.
Posso apostar uma paçoquita que, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, em que grupos que apoiam Trump se recusam a usar máscara, bolsonaristas devem se guiar pela mesma cartilha negacionista em aceno a Jair Bolsonaro, que só adere à proteção raramente e muito contrariado.
A influência que ele tem sobre seus apoiadores não pode ser minimizada, haja vista o estudo que mostra menor taxa de isolamento e maior número de mortes nas cidades em que teve maior votação.
Mas agora é tudo junto e misturado, e a irresponsabilidade de uns pode significar a morte injusta daqueles que seguem as recomendações dos órgãos competentes. Evoluímos (sic) do pobre debate que dividia esquerda e direita em relação ao apoio ao isolamento, ao uso da cloroquina e à volta ao trabalho para um ainda mais raso.
Pela lógica bolsonarista raiz, o uso da máscara deve ser coisa de esquerdista comunista e será motivo de bate-boca e agressões entre os que têm consciência coletiva e aqueles que, em defesa de uma pauta política, apelarão aos direitos individuais numa questão que diz respeito a todos.
Essa liberdade de escolha vale para aborto e drogas também?