Padrelladas

Diário da Pandemia

A vizinha de cima, todo mundo chama ela de Mia, foi o seguinte. Me deu vontade de provocar. Fui até lá e falei pela porta fechada: “A senhora faz pão pra vender?”. Ela achou estranho e respondeu que não produzia alimentos.”É que todo mundo comenta sobre pão de Mia”. Ela disse que não achou graça nenhuma. Pra falar a verdade, nem eu.

O pessoal do delivery traz tudo pra gente. Esse serviço facilita nossa vida de confinados. Traz tudo, só não traz coisa. O orégano vou ter que batalhar eu mesmo.

Depois de velho, quem diria que ia exercer Medicina Veterinária. Ouvi – foi por acaso – vizinho se queixando de dor na anca, e eu me intrometi e perguntei se tinha cavalgado muito. Eu precisava saber para poder oferecer um diagnóstico seguro. Respondeu que não montava a cavalo. Eu sei – respondi – preciso saber se o senhor transportou alguém no lombo. Em todo caso, receitei boldo quando fosse comer sua alfafa, vamos que fosse o fígado. Outro vizinho se queixava de dor de cabeça e outras queixas correlatas. Não me foi difícil diagnosticar a febre da vaca louca. Receitei porções generosas de feno e milho, o que não mata engorda. A menina do Freitas estava se queixando de enjoos, eu diagnostiquei na lata: Tá prenha. Espero que lembrem de me pagar pelas consultas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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