CHAMAVA-SE Omar Gonçalves da Mota. Constava como catedrático na brochura de programas que recebemos ao entrar na UFPR. Professor catedrático de direito do trabalho. Uma vez nomeados, os catedráticos lecionavam quando e se quisessem, nem precisavam residir no domicílio acadêmico. Como os deuses do Olimpo, materializam-se rapidamente no concurso da cátedra ao cumprir a missão de espalhar as luzes da ciência.
Na reforma do ensino feita pela ditadura, além dos danos que ainda perduram, os catedráticos desapareceram, substituídos pelos titulares. Até então, os catedráticos eram imortais como os da Academia, sem a mordomia do jazigo perpétuo machadiano. Para tapar o buraco de sua ausência existiam os professores assistentes, que, na falta do catedrático para assistir, assistiam aos alunos.
Nunca vi ou ouvi nosso catedrático de direito do trabalho. Dizia-se que vivia em São Paulo, bem posto chefe do jurídico de indústria multinacional de detergentes. Aportara em Curitiba para obter a cátedra, no bolso a passagem de volta. Quando perguntava por ele, os veteranos respondiam na frase irônica, primor de síntese e significado, digna de um catedrático: “Ah, o marmota”.