Foi um comentário casual, inocente, “puxa, como tua mulher tem sorte!” Casual e inocente, porque o interlocutor desmanchava-se em narrar seu azar, que equivalia no exato contrário na mulher. Quando sonhava com cobra, o bicho dava cavalo. Seus investimentos eram a fundo perdido, dinheiro jogado fora. Um perdedor nato.
Já a mulher, contava, os olhos brilhante, tinha nascido com o traseiro para a lua: tomava o ônibus e achava maços de dinheiro; comprava as rifas do ‘nome de sua preferência’ (não o dele) e ganhava joias caras. Ele, a única vez que achou alguma coisa foi aquela cueca debaixo da cama – que, para cúmulo do azar, nem servia nele.n
Inocente, como dito lá em cima, soltei o comentário casual: “é muita sorte para uma só mulher!” Aquele marido, até ali manso e pacato, tomou-se de fúria bíblica: “minha vontade é encher tua boca com uma porrada”.