Se vivo fosse, Ricardo Pussoli estaria completando nessa sexta-feira, 25/09, cento e um anos de idade. Não chegou a tanto, mas deixou o nome gravado na história desta Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba, em inúmeros edifícios e vias públicas. São obras de sua autoria, entre outras, a Rodoferroviária, a Assembleia Legislativa do Estado, o Anexo da Câmara Municipal de Curitiba e várias Ruas da Cidadania, como a da Praça Rui Barbosa. Construiu ainda o megaempreendimento que hoje abriga o CT do Clube Athlético Paranaense. Também têm a marca da Construtora Pussoli vias das dimensões e importância da Rua Marechal Floriano, Avenida Paraná, Avenida Sete de Setembro e parte da nova Avenida Iguaçu. Ricardo Pussoli era um empreendedor nato.
Catarinense de Treviso, distrito de Urussanga, chegou ao Paraná depois de resolver um problema existente na então BR 2, hoje BR-116. No trecho gaúcho que ligava Galópolis a Caxias do Sul, havia uma rocha que bloqueava o caminho e espantava os empreiteiros. O jovem Ricardo, então em plena juventude, empunhou uma picareta e iniciou pessoalmente o serviço. E não o abandonou mais. Faleceu aos 93 anos em plena atividade, já então detrás de uma escrivaninha, traçando planos e distribuído tarefas. Não tinha curso superior, mas sabia mais que seus engenheiros e mestres de obras. Aprendera fazendo. E fazia com gosto.
É claro que como todo empreiteiro de obra pública, Ricardo Pussoli queria ganhar dinheiro, capitalizar suas empresas, mas isso era secundário. O principal para ele era fazer, realizar, construir. Não poucas vezes, tão logo vencia uma licitação, movimentava a tropa, antes mesmo da emissão da nota de empenho e da ordem de serviço. E não adiantava ser alertado pelo filho e fiel escudeiro Rafael. O negócio de Ricardo era o trabalho, sem perda de tempo. Não por acaso, terminava as suas obras antes do prazo previsto.
Na vida pessoal, foi sempre uma pessoa simples, que nem de longe parecia o grande empresário que era. Não frequentava convescotes, não aparecia nas colunas sociais. O máximo que se permitia era marcar presença na Boca Maldita, aos sábados pela manhã. Ali encontrava os velhos amigos e fazia novos.
Os concorrentes, maldosamente, acusavam Pussoli de ser o favorito da administração pública, particularmente a municipal, na distribuição das obras. Não era verdade. Ele participava regularmente das licitações e se as vencia era porque atendia a todas as exigências dos editais e oferecia o preço mais vantajoso. Acrescentava a isso a experiência de mais de 50 anos na lida e a confiança e o respeito dos administradores públicos. Daí a constância das placas de sua construtora em inúmeras obras da cidade e arredores.
Não poucas vezes, porém, demandou, administrativa e judicialmente, contra a Sanepar, DER, DNER, Decom, Secretaria Municipal de Obras Públicas de Curitiba, Infraero, Suderhsa e vários outros órgãos públicos. Sei disso porque, como advogado, assinei, com outros colegas, inúmeras petições em nome da Construtora Pussoli, no final dos anos 90/início dos anos 2000.
Ricardo Pussoli não era adepto de demandas, administrativas ou judiciais. Era do tempo em que as regras estabelecidas eram cumpridas sem problemas e a palavra garantida pelo fio do bigode. Mas, às vezes, não havia jeito. E, mesmo constrangidamente, agia.
Foi um grande homem que passou por este mundo e deixou não só a sua marca e o seu exemplo, mas muita saudade. Quantos Ricardos Pussoli existem hoje em dia? Curitiba ainda está lhe devendo uma merecida homenagem.