Onze milhões, duzentos e cinco mil, novecentos e setenta e dois brasileiros infectados pelo maldito vírus, mais de duzentas e setenta mil pessoas falecidas – ontem, quarta-feira, a soma diária ultrapassou as 2.000 mortes, com uma média de 1.600 por dia, a mais alta do mundo; hospitais e leitos de UTIs abarrotados, doentes acumulados nos corredores ou aguardando vaga em ambulâncias, médicos e enfermeiras no limite da exaustão e da depressão, falta de respiradores e medicamentos, contêineres frigoríficos à espera de cadáveres, vacinação retardada e lenta e famílias destroçadas em todo o país. A Organização Mundial da Saúde resumiu a situação como “uma tragédia”. Tudo devido à incompetência, negligência e arrogância das autoridades ditas superiores. E o delinquente que nos (des)governa tem a coragem de proclamar para os imbecis que ainda o escutam: “Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”
A estúpida declaração varou as fronteiras do Brasil e estarreceu o mundo. Foi destaque na BBC, na agência Reuters e no The Independet, de Londres; no site francês France 24; na Deutsche Welle, da Alemanha; nas redes americanas ABC e CBN; e até na rede Al Arabiva, do Oriente Médio.
Indiferente a tudo isso, o capitão Messias ofereceu um almoço no Palácio do Planalto, onde leitão assado foi servido aos convivas. Segundo um dos presentes, o presidente estava alegre e descontraído, tirou fotos, circulou sem máscara e, segundo a colunista Mariliz Pereira JoChineladas neles!rge, só faltou soltar um “foda-se a vida”, como de costume. Talvez estivesse comemorando o recorde de óbitos daquele dia.
Nunca se viu nada igual na história da República (e mesmo no Império). Nem mesmo quando o desatinado eleitor decidiu eleger os nefastos Jânio da Silva, o homem da vassoura, e Collor de Mello, o caçador de marajás.
Se o Congresso, omisso e inoperante, mais preocupado em aumentar a imunidade da classe, recusa-se a dar andamento às dezenas de solicitações de impeachments que armazena em suas gavetas, só resta aos brasileiros e brasileiras tirar o desqualificado inquilino do Palácio do Planalto e seus asseclas a chineladas. Se lá continuarem, eles acabam com o Brasil. E todos nós seremos cúmplices.
Desde o princípio, o inepto capitão-presidente incentivou as aglomerações e a desobediência às medidas de proteção, deu mau exemplo, difundiu informações falsas sobre a Covid-19, chamou-a de “gripezinha”, prescreveu e distribuiu remédios ineficazes e dificultou o quanto pôde a aquisição de vacinas. E ainda teve a audácia de creditar o pânico da população à imprensa.
Por muito menos do que isso, Fernando Collor de Mello e Dilma Rouseff foram alijados do poder. Collor pelo envolvimento em esquema de corrupção e o recebimento de um veículo Fiar Elba; Dilma, oficialmente pelo cometimento de crime de responsabilidade fiscal, mas, na verdade, por incompetência administrativa.
Em ambos os casos, protestos ocuparam as ruas, reunindo milhares de pessoas e os gritos de “Fora Collor!” e “Fora Dilma!” ecoaram Brasil adentro. Hoje, se a peste impede aglomerações em praça pública, existem as redes sociais, com idêntica senão maior eficiência. Valemo-nos delas. A questão é de sobrevivência.
Governadores, prefeitos, médicos, cientistas, partidos políticos, centrais sindicais, empresários, religiosos e intelectuais já externaram publicamente o seu descontentamento com a conduta, com as mentiras e com a inoperância do governo federal. O mesmo foi feito por parcela do ministério público, da magistratura e dos tribunais superiores. A opinião é unânime: “Bolsonaro é uma ameaça global”.
Para o ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, “nós estamos, infelizmente, vivendo um momento de desvalorização da vida, em que pessoas nos deixam e passam a ser tratadas puramente como números. É muito triste o que está acontecendo no Brasil e é legitimo o sentimento de abandono que as pessoas têm pelo Brasil afora”.
Isso só será corrigido com o afastamento do insano do Planalto Central. E não creio que seja possível aguardar até 2022.