Turma do futuro não vai acreditar no que ocorre hoje

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros. Leu, releu e não acreditou. Leu de novo. 300.000 mil mortos? Não era possível. Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000? Absurdo. Não tinham vacinas? Não era cabível. O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico? Não era admissível. Receitavam remédio inadequado? Que tristeza

Meu tataraneto acordou no dia 25 de março de 2121 e, como de costume, antes de engolir a pílula de café da manhã, cheia de vitaminas e alimentos concentrados, quis dar uma pesquisada em seu arquivo digital. E quis a coincidência das coincidências que ele, depois de girar o pião das datas, fosse parar exatamente 100 anos atrás. E o que é mais incrível: caiu justo na data de 25 de março.

25 de março de 2021 – o ano do agravamento da pandemia.

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros.

Leu, releu e não acreditou.

Leu de novo.

300.000 mil mortos?

Não era possível.

Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000?

Absurdo.

Não tinham vacinas?

Não era cabível.

O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico?

Não era admissível.

Receitavam remédio inadequado?

Que tristeza.

Foi então que meu tataraneto tentou uma ligação metamediúnica para mim, que já tinha partido do planeta Terra havia uns bons anos.

O sininho do aparelho interanímico soou e eu, que ainda estava dormindo, despertei meio assustado.

“O que foi, Salinzinho III ?”, perguntei.

E ele disse:

“Pô (sim, eles ainda falavam pô!), meu tataravô, isso que está postado aqui no arquivo acontecia mesmo no Brasil do seu tempo?”

E eu fui obrigado a confirmar.

Ele achou que era página de humor negro.

“Verdade também que um navio encalhou no Canal de Suez?”

E eu respondi que sim.

E, como ele sabia que eu tinha sido jornalista e trabalhado muito em reportagens esportivas, mudou de assunto.

“Verdade que, mesmo com todas as mortes no mundo, o Japão estava garantindo a realização da Olimpíada de Tóquio?”

“Sim, meu tataraneto, o desvario se espalhou pelo mundo todo.”

“A tocha olímpica chegou a Fukushima?”

“Sim, os jornais noticiam isso!”

E ele insistiu:

“E é verdade que o Palmeiras (meu tataraneto no sonho era palmeirense) empatou com o São Bento, jogando em Volta Redonda?”

Aí resolvi desligar o aparelho mediúnico.

Já era demais, né?

Campeonato Paulista no campo do Voltaço…

Aí voltei a dormir. Se nós, que estamos vivendo este momento, não entendemos mais nada, como vamos explicar essa loucura aos que virão no futuro?

Roberto Salim

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Ultrajano. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.