Abandonado por militares de alta patente, Bolsonaro, que foi alçado à capitão em acordo para deixar o Exército após ser preso em 1987 por “atos de indisciplina e deslealdade” com superiores, estaria insatisfeito com o tratamento da cúpula das Forças Armas.
Reportagem de Andrea Juber, na edição desta quarta-feira (31) do Valor Econômico, afirma que Jair Bolsonaro (Sem partido) vai exigir dos generais que assumirão os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica que seja tratado como “comandante-em-chefe das Forças Armadas”.
Alçado ao posto de capitão em acordo para deixar o Exército após ser preso por 15 dias em 1987 por “atos de indisciplina e deslealdade” com os superiores, Bolsonaro estaria ressentido por ainda ser tratado pela patente mesmo ocupando a presidência.
“Ele sentia que ainda o tratavam como capitão”, disse uma fonte militar ao Valor.
Pelas redes sociais, o ex-bolsonarista general Paulo Chagas, que está na reserva, disse conhecer Walter Braga Netto, que substituiu Fernando Azevedo e Silva no Ministério da Defesa, e ressaltou
que acredita que o militar não se prestará “ao serviço de mensageiro das intenções políticas do presidente Bolsonaro junto às FFAA”.
“Tenho fé e conhecimento de que, sejam quem forem os substitutos [dos comandantes], nada mudará”, tuitou ainda.
Candidato ao governo do Distrito Federal em 2018 com o apoio de Bolsonaro, Chagas afirmou em entrevista à revista Época que o Alto-Comando não vai embarcar na “canoa” bolsonarista.
“O Exército aprende muito com seus erros. Se meter num negócio desses é uma burrice. O Exército não pode ser burro. O Alto-Comando, que estuda e decide as atitudes da Força, não vai embarcar nessa canoa”, ressaltando que Bolsonaro “continua sendo deputado do baixo clero”. “Fica jogando coisas no ventilador sem se preocupar com o resultado”.
Manifestação política
Um e-mail disparado na segunda-feira (29) pelo Comando Militar do Planalto mostra mais uma batalha da guerra entre Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas.
Na mensagem, os comandantes alertam coordenadores de brigadas, regimentos e batalhões subordinados sobre a proibição legal de manifestação política por parte de militares, inclusive em redes sociais.
O alerta cita um comunicado do comandante do Exército, de agosto de 2019, que estabelece que as “normas de conduta” se estendem a mídias sociais e a manifestações e veículos de comunicação”.
O Comando Militar do Planalto é subordinado ao Comando do Exército, que na segunda-feira ainda estava sob a alçada de Edson Pujol, pivô da intriga de Bolsonaro com as Forças Armadas, que foi demitido nesta terça-feira (30).