O trabalhador está morrendo, dane-se o mercado nervoso

Sou do tempo em que os principais jornais brasileiros tinham até editoria sindical, para cobrir, minimamente, a vida, reivindicações, pensamentos dos trabalhadores e dos servidores públicos. Óbvio que isso não impedia que a linha editorial fosse mais a favor dos patrões, né, afinal de contas o jogo é jogado e o lambari é pescado, assim é a linha na grande imprensa, quem viveu no chão dessa fábrica de salsichas desde muito cedo sabe disso muito mais que esse cronista matuto a suar tintas de manchetes populares.

Sou do tempo presente. E só leio, agorinha mesmo, a mídia tradicional brasileira preocupada com o patronato. Quando tem trabalhador como personagem é o bicho homem já lascado de tudo feito maxixe em cruz, além muito além do lúmpen do lúmpen do proletariado. Tal e qual o homem-gabiru comendo lixo do poema de Manuel Bandeira. Seria um homem ou um bicho?

O mercado está nervoso. Nossa madre. Vixe. Vamos gastar o suor final e salvar essa santa entidade. Fizeram uma reforma trabalhista durante meses e eu não vi – desafio a quem enxerga melhor que meus 8 graus de miopia + astigmatismo – um só líder trabalhista ou operário avulso com direito a opinião nos telejornais das tevês abertas brasileiras. Resultado: lascaram os pobres. De verde e amarelo. Fumo de Arapiraca nos trabalhadores, para usar uma civilizada metáfora nordestina das antigas.

Xico Sá

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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