Sylvio Back volta à cena (por escrito)

Capa|Contracapa: Solda

Cineasta que fez história superando muitas barreiras agora expande seu talento no papel com Silenciário, livro que já chega com muitos elogios

Na edição do dia 4 de janeiro, o Plural noticiou com o devido destaque:

– Pelo conjunto da sua obra literária e cinematográfica dedicada à arte e à cultura catarinenses e brasileiras, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) concedeu, em dezembro, o título Doutor Honoris Causa a Sylvio Back.  

E abordava também o seu novo livro, Silenciário, “reunião de poemas publicados e inéditos a vir a lume em abril”… Confirmado o lançamento da obra, foi brindado com outra publicação, um texto de Carlos Adriano, cineasta, doutor em audiovisual pela USP, publicado no dia 18 deste mês pela Folha de S. Paulo. Trechos:  

SILENCIÁRIO  

– “Para mim, fotogramas embutem epigramas. Versos e takes comungam a mesma invisibilidade, esse apelo ao outro lado (beyond) da imagem e da palavra. O poema antevê o cinema!” Assim o (s)elo entre as duas artes é definido por Sylvio Back, que, aos 83 anos, lança em abril Silenciário (Editora da Universidade Federal de Santa Catarina). Íntegra de uma das duas vertentes de sua poesia, com livros de 1988 (Moedas de Luz) a 2014 (Kinopoems), a obra tem por núcleo 35 poemas inéditos (A Maior Diversão).  

A outra vertente é a poesia erótica, reunida em Quermesse (Topbooks, 2013), da estreia em 1986 (O Caderno Erótico de Sylvio Back) a 2007. Na esteira dos contos de O Himeneu (2019), prepara agora Tesão Não Tem Idade, seleta de poemas lúbricos para a editora Escombros. “Logrei demarcar territórios, onde Eros e Tanatos trocam figurinhas e versos para encantar ou desencantar o leitor”, indica o autor. E explica: “Sem premeditar, produzi uma obra anfíbia. Uma ancorada no fescenino e, outra, fruto de influxos da alma ferida diante dos reveses que pavimentam a vida, obra e a sobrevida de um cineasta no Brasil”.  

Ainda do texto de Cláudio Adriano: “Leitor voraz e veraz de poesia”, cuja estante é maior que a de livros de cinema, Back iniciou seus poemas aos 48 anos, após vinte filmes. Dos poetas de (p)referência cita: Drummond, Bandeira, Cabral, Augusto de Campos, Auden, Cummings, Emily Dickinson, Sá-Carneiro, Breyner Andresen, Bashô, Wang Wei, Lezama Lima. Em A Babel da Luz (1992), filmou Helena Kolody (1912-2004), precursora do haicai no país. Back imagina a arqueologia: “quem sabe o poema nasceu rupestre, onde nas pinturas das cavernas podemos identificar tanto uma estrofe visual como uma imagem em movimento”.  

Filmar é como poetar  

Back crê na conciliação: “Como se, aparentemente, poema e cinema dormissem juntos e jamais tivessem trocado algum afago”. Para ele, filmar é como poetar e vice-versa. Tem pesquisado (em acervos de Brasil, Portugal e Itália) um novo filme sobre Murilo Mendes (1901-1975), autor de A Poesia em Pânico.  

“Não sou um poeta de sentimentos, mas de pressentimentos”, confessa. “Filme sem poesia é filme sem alma”, decreta, ao comentar a escassa magia no ofício que, em vez de lápis e papel no ato solitário, implica indústria onerosa e labor coletivo. Mas artes irmãs são imãs: “Cada poema e cada plano filmado resumem tamanho investimento formal e exorcização moral que sempre soam como o último. Como se a musa jamais fosse voltar à cena do crime”.  

A situação do país  

A obscena situação no país o provoca: “Quando as circunstâncias pisam nas minhas convicções humanistas, invisto num poemário antiutópico”. E atiça: “vivemos constantemente numa tremenda ressaca moral; por esperar o que jamais virá”, citando um verso de Silenciário – “a esperança é grotesca”.  

Ainda de Carlos Adriano:  

– Um verso de Gregório de Matos dá título a um roteiro inédito, “impossível de habilitar a recursos incentivados”. Flor de vasta colheita em cinematecas, Não Existe Pecado do Lado Debaixo do Equador seria a estreia de Sylvio Back na seara do filme erótico: “uma colagem lúdica e explícita do cinema pornô do Brasil desde que surgiu, praticamente junto com a própria introdução do cinema entre nós”. Afeito a um cinema de confronto, o bardo não se conforma ao conforto silenciário. Silenciário: 432 páginas. Avaliação: ótimo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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