Aos quartéis, fardados!

Não pretendia escrever nada hoje. Não aguento mais esse estropício chamado Jair Messias Bolsonaro. Não consigo mais escrever sobre ele, nem vê-lo, nem ouvi-lo, sequer pensar nele. A lembrança dele causa-me profundo mal-estar. Ainda que ele seja um azêmola, um animal invertebrado, que desonra os animais invertebrados, ocupa a cadeira presidencial. Nunca houve coisa igual na história da República. Nem no tempo de Jânio e de Collor, outros aloprados que habitaram o Palácio do Planalto e aviltaram o cargo. A atual figura supera todas as demais juntas. E ainda tem a proteção de representantes das Forças Armadas!

Cristina Serra foi repórter estrelada da Rede Globo de Televisão. Hoje, é articulista da Folha de S. Paulo. Escreve bem e sabe o que diz. No sábado passado, brindou-nos com um texto dos mais lúcidos e corajosos, que merece reprodução. Faço de suas palavras as minhas e, através de Cristina, falo de Bolsonaro, sem ter falado. Título do artigo: “Baixem o tom, fardados!”. Ei-lo:

“Generais, brigadeiros e almirantes deveriam ser os primeiros a querer esclarecer as gravíssimas denúncias de corrupção, reveladas pela CPI da Covid, que batem à porta de Bolsonaro e de uma penca de fardados. Mas o  que estamos vendo é bem o contrário.

“Como em outros momentos da nossa história, a cúpula das Forças Armadas e o Ministério da Defesa preferem esconder a sujeira embaixo do tapete, peitar as instituições democráticas e afrontar a Constituição e a sociedade civil. É esse o sentido da nota assinada pelo ministro Braga Netto e pelos três comandantes militares após a declaração do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), de que há um ‘lado podre das Forças Armadas envolvido com falcatrua dentro do governo’”.

Em seguida, Cristina indaga e responde: “Alguém duvida disso? A pior gestão da pandemia no mundo foi a de um militar brasileiro, o general da ativa Eduardo Pazuello. Agora, sabemos também que a alta hierarquia do ministério na gestão dele, toda fardada, aparece no ‘vacinagate’, notadamente seu ex-secretário-executivo, o coronal da reserva Elcio Franco”.

E vai em frente: “Depois de tantos anos restritos aos quartéis e às suas atribuições profissionais, os militares voltaram ao poder de braços dados com um sujeito desqualificado, medíocre, notoriamente ligado a esquemas criminosos, que vão de rachadinhas a milicianos, e que é sustentado no Congresso pelo centrão”.

Mais: “Cúmplices e agentes ativos de tudo isso, os militares vêm cantar de galo, atribuindo-se o status de ‘fator essencial de estabilidade do país’. Ora, é exatamente o contrário. Senhores fardados, vocês deixarão uma herança de morte, doença, fome e corrupção. Querem enganar quem? Acham que estão em 1964?”.

E por fim: “Baixem o tom, senhores. O Brasil não tem medo de suas carrancas, de seus coturnos e de seus tanques. Generais, vistam o pijama e, quando a pandemia passar, organizem um campeonato de gamão na orla de Copacabana. É o melhor que podem fazer pelo país”.

Grande Cristina! Estamos juntos. E tem um mundaréu de gente atrás.

P.S. – Não por acaso, pesquisa do Datafolha revelou, nesta semana, que 62% da população são contra os militares da ativa em manifestações políticas e 58% querem os fardados fora do governo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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