Em 1970 e poucos, o Solda era humorista, cartunista premiado, ex-integrante de um grupo de teatro liderado por Manoel Carlos Karam, recém-recuperado de um acidente de moto e novo diretor de arte da PAZ Criação e Comunicação, agência que disputava com a Múltipla Propaganda e Pesquisa o título de “mais criativa do Paraná”.
Na época, eu trabalhava como redator na PAZ, duplava com o Miran e com o Zeno, e o Solda, com o Fernando Nogueira. O Leminski e o Rettamozo faziam a outra dupla da casa. Por muito tempo, pensei que Solda fosse o pseudônimo adotado por aquele cara barbudo, cabeludo, meio parecido com o Che Guevara, que, além de ter um traço cheio de personalidade e um incontrolável talento para cantar paródias hilariantes, também sacava títulos imbatíveis. Engano meu, Solda era mesmo o sobrenome desse artista que, ao ouvir Lennon dizer “O sonho acabou”, imediatamente anunciou: “Mas ainda tem cuque”. O verdadeiro pseudônimo do Solda foi criado, sem querer, pela fotógrafa Nélida, a Gorda, então mulher do Retta e também gaúcha. Insistindo para que o Solda batalhasse mais para ser nacionalmente reconhecido como cartunista, Nélida falava: “Solda, tu tens que te impor, tens que te impor!”
Assim nasceu o Professor Thimpor, personagem, alterego e, para muitos, o genuíno Luiz Antônio Solda. Solda, Leminski, Retta, Rogério Dias, César Bond e eu formamos a base do time de criação da Múltipla, com mesa cativa de sinuca no bar da esquina, desde os últimos anos da década de 70 até meados dos anos 80. Se algum dia você ouvir falar que o Solda bebia muito, não acredite. Lá pela terceira cerveja, ele dormia onde quer que estivesse. Às vezes, mais do que inconveniente, isso podia ser perigoso. Certa vez, em uma churrascaria, ele dormiu dentro do próprio prato, de onde eu o resgatei antes que se afogasse na farofa.
Em outra ocasião, não percebi que ele estava dormindo e embarquei de carona no carro dele à saída de uma festa na casa do Osni Bermudes. Nós dois acordamos no Pronto Socorro. Em 1986, antes de fundir-se à Opus, a Múltipla tinha uma só dupla: eu e Solda. Depois, trabalhei com o Solda – e também com o Leminski, o Bond, o Buffo, o Henrique, o Ricardo – na Exclam. Mais tarde, com o Solda e com o Leminski na Casulo. Um dia, cada um foi para um lado.
O Solda teve um negócio chamado “síndrome do pânico” e trancou-se em casa. Ainda assim, nesse tempo, assinamos, juntos, a página de jornal “Balas Perdidas” no Estado do Paraná. Outro dia, liguei a TV e o Solda estava lá, ótimo, dando entrevista, contando história e dizendo que não tinha mais medo de nada, nem de viajar de avião. E olha que eu não tinha bebido nada.