Vexame internacional

O psicopata foi à Europa durante a COP26, mas ficou longe de Glasgow, Escócia, onde se realiza a Conferência sobre as Mudanças Climáticas. Nada teria a dizer lá, que o mundo já não saiba, isto é, que, além de um dos maiores emissores da gás carbônico do planeta, o Brasil é omisso ou condescendente enquanto as florestas continuam sendo dizimadas pelo fogo e pela invasão predatória de fazendeiros, garimpeiros e invasores de terras. Historicamente, nas conferências anteriores sobre o clima, o Brasil costumava ser requisitado por seu papel de articulador em negociações e debates globais envolvendo países em desenvolvimento. JMB preferiu fazer turismo na Itália e confraternizar com a ultradireita italiana à custa do erário brasileiro.

Mesmo nas reuniões preliminares ocorridas em Roma, o nosso capitão foi solenemente esquecido, sem a oportunidade de dialogar com nenhum dos chefes de Estado presentes, com exceção de dois minutos com o presidente da Turquia. Quer dizer, foi sempre um mero figurante. Não chegarei a cometer a maldade cometida em um dos editoriais da Folha, segundo a qual “Bolsonaro foi ignorado até quando tentou puxar assunto com os garçons”, mas não duvido que isso tenha realmente acontecido.

Em Roma, ao visitar o Coliseu, ele foi fortemente vaiado por brasileiros e italianos: “Você é uma vergonha! Incompetente, responsável por mais de 600 mil mortes! Genocida!” Estava acompanhado de toda a sua entourage, inclusive o general Walter Braga Netto, ministro do Exército e Paulo Guedes, ministro da Economia. E ninguém foi capaz de passar-lhe aquele bilhetinho que se costumava entregar ao chato da festa ou reunião e onde se lia “despista e caia fora”.

O fato se repetiu em vários outros locais do território italiano, inclusive na cidade de Anguillara Veneta, no norte da Itália, onde teria nascido o bisavô da figura. A prefeita Alessandra Buoso, ligada ao partido ultradireitista Liga Norte, anunciou que iria conceder-lhe o título de cidadão honorário. Resultado: a prefeitura foi pichada com esterco. E o odor chegou ao Brasil.

Quer dizer, mesmo à distância do território nacional, JMB conseguiu desmoralizar-se um pouco mais e ao país que desgoverna.

Como diria o bom amigo Márcio Augusto, a presença de Messias na Itália foi “aquela fiasqueira!!!”

Já que o presidente da Câmara de Deputados, Arthur Lira, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, não dão seguimento aos ditames legais para destronar a criatura, alguma coisa precisa ser feita para impedir que ela saia do Brasil. Desmoralizar-se internamente, tudo bem; afinal, foi o eleitor brasileiro que, espontaneamente, o colocou no trono. Mas exibir a sua desagradável estampa e o seu precário e mal-intencionado raciocínio internacionalmente, é intolerável.

Só para lembrar – em texto publicado antes das eleições (“Bolsonaro não!”), escrevi aqui:

“Por mais pecados e condescendência que tenha, o Brasil não merece o capitão Bolsonaro. Depois de Sarney, de Collor, de Lula, de Dilma Rousseff e de Michel Temer, era só o que faltava! Melhor fechar o país. Devolvê-lo para os tupis, pataxós, caiapós, guaranis, tamoios, marajoaras, tupinambás, botocudos, xavantes, caingangues, ianomâmis e todos aqueles bravos que foram ‘pacificados’ e ‘catequisados’ pelo pessoal de Cabral (o Pedro Álvares), pagar o prejuízo dos últimos 520 anos e sair de fininho rumo ao oceano”.

Fui em frente: “O cap. Jair Messias Bolsonaro é vazio, oco, não tem programa de governo, não sabe administrar, não é capaz de juntar as ideias. O que fará na presidência da República? Esteve durante sete legislaturas na Câmara de Deputados e o que fez pelo Brasil? Rigorosamente, nada. Apenas meteu-se em confusão, agrediu as mulheres e os homossexuais, defendeu a tortura, pregou o armamento da população, o fuzilamento de pessoas, o fechamento do Congresso e outras asneiras de igual quilate, como fazer a apologia da ditadura militar de 1964”.

E, por fim: “Se o eleitor está pretendendo votar no capitão como forma de protesto, não direi que é um idiota porque tenho amigos queridos que pretendem e não são idiotas, mas digo que é mal informado, irresponsável, inconsequente e odeia o Brasil”.

Três anos depois, os fatos são incontestáveis.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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