Joana Josefina Evaristo, minha mãe, nasceu no dia 23 de outubro de 1922, no interior de Minas Gerais, numa cidadezinha chamada Serra do Cipó, 34 anos após a assinatura da Lei Áurea.
Calculo que a minha avó materna, Lidumira de Miranda Pimentel, e meu avô, Luiz Floriano, tenham sido filhos do “Ventre Livre”, lei promulgada em 1871, considerando livres os filhos de mulheres escravas nascidos desde então.
Voltemos para 1922, pois outro acontecimento importante se deu. A realização da Semana de Arte Moderna em São Paulo. Evento que me instiga a perguntar sobre os diferentes Brasis, contidos no Brasil, desde ontem até hoje.
Serra do Cipó está localizada perto de Pedro Leopoldo, vizinho ao aeroporto internacional de Confins, em Minas Gerais. No tempo de minha mãe menina, Serra do Cipó era tudo roça. Quase todos os fazendeiros eram de mediana riqueza, penso eu, havia um pequeno comércio e uma população muito pobre, marcada pelos efeitos presentes da escravização. Entretanto, no mesmo ano em que a minha mãe nasceu, em São Paulo estava sendo realizada a Semana de Arte Moderna. E, mais ou menos sete anos após a Semana de 22, crianças no interior de Minas não tinham vestimentas, andavam nuas. Minha mãe ganhou a primeira muda de roupa quando tinha uns sete ou oito anos.
Um camisolão dado pela madrinha de batismo, cerimônia realizada por um padre que passara pela região ou estava por lá em missão. Creio que o nome dele era padre Acácio.