No Brasil de Bolsonaro cansei de lutar contra o moinho de vento e decidi não fazer mais charges

Eu já estava isolado em casa antes da pandemia. Um isolamento que, em parte, era por motivos econômicos – a crise no mundo da arte é violentíssima há bastante tempo, mesmo antes do Bolsonaro, e para sobreviver fui dando cambalhotas. E fui ficando deprimido. Para me concentrar nos meus trabalhos, me recolhi, deixei de gastar dinheiro indo para a rua.

Fui forçado a um retiro sabático, mas passei a ter mais problemas de saúde, porque dentro de casa a cabeça fica girando, sem a reação do mercado. E aí veio a pandemia. Aquela sensação de estar sozinho, isolado, passou a valer para todos. Quando as pessoas se isolaram dentro de casa, em 2020, até brinquei com meus amigos: parecia corrida de Fórmula 1. Eu só vinha tomando volta dos outros carros, mas aí veio esse desastre que obrigou o carro madrinha a entrar na pista e a realinhar todo mundo no ponto de partida.

Hoje moro na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, mas nasci em Campo Grande (MS). Foi lá que comecei minha carreira de chargista. Acho que entrei para a profissão por causa do meu temperamento. Sempre fui contestador, não aceito resposta sem argumentar. Além disso, tive os estímulos certos. Meu pai era um cara à frente do tempo: era caminhoneiro, mas falava quatro idiomas e assinava revistas internacionais para que a gente pudesse ler. Por isso eu quis ser desenhista. Aos 15 anos fui trabalhar no Diário da Serra fazendo tirinhas, e em pouco tempo me arrisquei nas charges políticas, desenhando o prefeito, um vereador da cidade… Passei a me enxergar no Ziraldo e em todo o pessoal do Pasquim, que eram os meus ídolos, os heróis da resistência. Foi assim que me descobri chargista.

Aos 21 anos me mudei para o Rio de Janeiro. Pouco depois de chegar, fui contratado como desenhista pela DeMuZa, a empresa que Dedé, Mussum e Zacarias criaram depois de terem se separado do Renato Aragão. Trabalhei num filme deles, Atrapalhando a Suate. Essa foi minha escola de cinema, de roteiro, de tudo o que eu gostava na vida. Ali eu mergulhei no caldeirão do Asterix. Queria simplesmente beber aquilo e sair mais forte.

Victor Henrique Woitschach (Ique)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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