Sempre Nicolau – 2008

Agora em julho, 21 anos, senhores, da criação do tablóide de idéias Nicolau! De 1987 a 1994, o suplemento de cultura, último bastião do jornalismo romântico brasileiro, sacudiu o País pós-ditadura, promovendo, desde Curitiba, um carnaval de idéias dificilmente superado no Brasil.

E nunca é demais reconhecer: sem meu velho amigo René Dotti ou sem o aporte de minha adorável Gilda Poli, ele então secretário da Cultura e ela, à mesma época, diretora da Imprensa Oficial, nada teria acontecido. Por mais talento tivéssemos a pequena equipe que reinventou o jornalismo cultural tupiniquim.

Quando o tema é Nicolau – ao contrário de meus livros -, costumo ficar inteiramente à vontade para falar deste que foi o derradeiro nanico da imprensa brasileira, mesmo porque, é óbvio, nunca o fiz sozinho. Nicolau foi sempre a expressão das equipes que por ele passaram, marcadas todas por garra e engenho incomuns. E, claro, da alta marca democrática dos governos que o patrocinaram.

Causa pasmo, até hoje, leitor, que o tablóide fosse bancado pela iniciativa oficial – Álvaro Dias, primeiro; e a seguir, Requião. Com a entrada de Lerner e do obtuso secretário da des-cultura que lá colocou, o jornal naufragou vergonhosamente. E nós, seus criadores, expulsos até do prédio da rua Ébano Pereira. Uma vergonha a manchar a biografia de qualquer homem público.

O Brasil se indignou, com algumas raras mas igualmente vergonhosas exceções de pseudo-intelectuais agarrados aos testículos do Poder feito uma infâmia. Inútil citar nomes – a História não os perdoará… De cineastas a poetastros de província, sequiosos de mostrar seus versinhos mediocrões.

Se pensaram em prestígio fácil, erraram feio. Nicolau perdeu, do dia para a noite, a credibilidade acumulada em 8 anos de nunca interrompida circulação. E não passa um mês, até hoje!, gentil leitor, que eu não tenha de responder a extensos questionários, daqui e d’além mar, tendo como foco o saudoso tablóide.

Tudo isso aí para dizer, de público, nesses 21 anos da criação do jornal, a minha gratidão principalmente ao René Dotti, velho de guerra. Por muita coisa mas também por haver suportado, com grandeza, a minha dissolução pessoal de então, apostando que este escriba ainda era possível… Penso que não o decepcionei, René… Me orgulho de mim, para soar lispectoriano, de que tenha conseguido honrar sua aposta.

Agora vem aí a Enciclopédia Itaú Cultural. Nela, Nicolau é longuíssimo verbete, onde só se considera o período 1987-1994. Sorry, periferia! Isso além de indicado, por Ítalo Moricone, como um dos três mais importantes jornais culturais brasileiros do século XX, ao lado apenasmente do Pasquim e do Opinião. Sorry, again…                                                             

É mole? É mole, mas sobe! Para plagiar o meu amigo (dos Anos Loucos cariocas) José Macaco Simão

22|agosto|2008

Wilson Bueno foi demitido do jornal O Estado do Paraná por e-mail.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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