Com seus papéis, Monica Vitti inspirou as mulheres a serem adultas, conscientes e independentes
A morte de Monica Vitti na quarta-feira (2) gerou na imprensa mundial a esperada manchete: “Morre uma deusa do cinema italiano”. Que ela era uma deusa, não se discute. Mas deusas vivem no Olimpo, e o importante em Monica foi o que ela fez na Terra, ao representar mulheres adultas, conscientes, independentes. Não parecia haver muitas na vida real. E se, nos anos 60, elas começaram a surgir em grande número, foi porque viram Monica em “A Aventura” (1960), “A Noite” (1961) e “O Eclipse” (1962), seus filmes com o diretor e então marido Michelangelo Antonioni.
Pelo menos as manchetes não a chamaram de “a última deusa do cinema italiano” —não na presença de Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Claudia Cardinale, Sandra Milo, Antonella Lualdi, Marisa Allasio, Stefania Sandrelli, Catherine Spaak, Luciana Paluzzi, Dominique Sanda e Ornella Muti, que estão vivas, imagino que aposentadas e não quero saber com que idade. Para nós, que nos apaixonamos por elas quando tinham 20 ou 30 anos, rever hoje seus filmes —e eles existem em vários formatos— é uma maneira de também voltarmos a alguma idade da qual nunca deveríamos ter saído.
A categoria deusa inclui as que já se foram, mas que a câmera preservou para nós e para os que só sabem delas de ouvir falar: Alida Valli, Carla Del Poggio, Silvana Mangano, Silvana Pampanini, Lucia Bosè, Rossana Podestà, Rosana Schiaffino, Elsa Martinelli, Sylva Koscina, Virna Lisi, Laura Antonelli. Qual cinema produziu mais deusas que o italiano? Mas não acredite em mim —puxe para sua tela uma imagem dessas mulheres.
Elas eram diferentes das americanas. Embora tão deslumbrantes quanto, seus papéis e suas personalidades nos davam a ilusão de que poderíamos de repente encontrá-las. E, na nossa imaginação, encontrávamos mesmo.
Não sei se Antonioni teria sido grande sem Monica Vitti. Mas garanto que, sem ele ou sem o cinema, ela seria a mesma grande mulher.