“Lamento profundamente e repudio veementemente as graves declarações do deputado Arthur do Val divulgadas pela imprensa. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável em qualquer contexto. As declarações são incompatíveis com qualquer homem público. Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos – tanto no campo público quanto na vida privada. Portanto, jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime”.
A nota de Sérgio Moro contra o deputado Arthur do Val (Mamãe Cheguei; Podemos SP), que viajou à Ucrânia como voluntário no esforço de guerra (passagens pagas pela câmara federal?). Como os cossacos nas aldeias judaicas e os russos na Alemanha de Hitler ele precisa do refrigério do sexo, aqueles pelo estupro, ele pela compra. Dizendo-se pegador, as ucranianas cairão na sua cama, porque tem dinheiro; e com a guerra elas, embora lindas, são pobres e necessitadas. Como jamais será expulso da câmara dos deputados, o deputado tem que ser expulso da Ucrânia. O Brasil já tem um Robinho para passar vergonha. E um Bolsonaro trapalhão que acabou fondo na Ucrânia.
A nota é oportuna pela primazia e pela omissão crítica dos atores políticos. Mas ali não fala o candidato Moro. Ainda é o juiz, no verbo enrolado e na toga sovada, turbinado por advérbio altissonantes e frases de efeito. Aquele “configuradas como crime” ouvidos sensíveis à regência transitivo-direta do verbo. Ali há o borrão do candidato, passado a limpo pelo advogado-amigo que chefia a campanha; o ex-juiz não confia no marqueteiro. O candidato in pectore da classe média curitibana começa a inspirar pena. Não pelas intenções de voto, que caem a cada dia. Faz pena pelas companhias que escolheu, os políticos, diferentes dos bravos procuradores e juízes da Lava Jato, gente com o mesmo molde e talhe.
Nosso ex-juiz virou a Conceição da música de Cauby: a que desceu do morro para subir na cidade, onde se perdeu. Moro como ministro e candidato convive com gente que no tempo de juiz mandava prender. Conviver e dividir palanque sem jogá-los em prisão preventiva, limitado a repudiar em nota e pedir providência ao partido – e apenas para efeito exterior, porque o partido não se pode dar ao luxo de perder deputado. Um partido no qual Moro é tão só um manequim na vitrina. Manequim eventual, como todos os manequins, a ser substituído com a mudança da moda. Moro ganharia fácil uma cadeira vitalícia em academia de letras. Ele é como o personagem de Molière, que fazia prosa sem saber.