Derrotar um político que concorre à reeleição nunca é fácil
“Hýbris”, o termo grego para “soberba”, é um troço complicado. Há pouco, petistas mais entusiasmados falavam numa vitória de Lula já no primeiro turno. A pesquisa Datafolha divulgada esta semana, que mostra uma redução da vantagem do petista sobre Bolsonaro, serve para injetar um pouco de realidade nas mentes mais exaltadas.
Derrotar um político que concorre à reeleição nunca é fácil. A taxa de sucesso na recondução de governantes ao cargo é da ordem de 80%, considerada uma base de quase 3.000 pleitos realizados em diversas partes do mundo ao longo dos últimos dois séculos e meio. Se quisermos ser mais específicos, o quadro fica ainda mais desafiador. Desde a redemocratização, 100% dos presidentes brasileiros que tentaram a reeleição a obtiveram. Verdade que o N é pequeno, apenas três: FHC, Lula, Dilma.
Jair Bolsonaro tem três forças a favor de sua candidatura e duas contra. A pandemia, embora não tenha acabado, está ficando menos mortífera e menos disruptiva. E, quanto mais nos afastamos dos momentos críticos, menos peso o eleitor deverá dar ao desempenho criminoso do presidente na gestão dessa crise. Outro fator benéfico para Bolsonaro é o Auxílio Brasil de R$ 400. Programas como esse rendem votos no Brasil. Aconteceu com o PT, deve acontecer com Bolsonaro.
Há, por fim, o antipetismo. O fenômeno ainda apareceu com força nas eleições municipais de 2020. Seria ingenuidade imaginar que simplesmente foi embora. Bolsonaro vai tentar atiçá-lo e deve colher frutos.
Contra Bolsonaro temos a inflação, que tende a ser tóxica para candidaturas situacionistas. Nada indica que ela cairá rápida e substancialmente. Temos também o que eu chamaria de análise objetiva. Quem se dispuser a avaliar desapaixonadamente as realizações de seu governo concluirá que ele é o pior presidente da história do país. Mas a objetividade não tem muito peso eleitoral. Melhor apostar na inflação.