Só a covardia explica o desdém demonstrado pelo general Gomes Mattos
Não sei quantas estrelas tem o general Luís Carlos Gomes Mattos, mas me lembrei do que diz Renato Russo, em “Faroeste Caboclo”, sobre generais de dez estrelas sentados atrás de uma mesa. Só a covardia explica o desdém demonstrado por ele, que é presidente do STM, ao se manifestar sobre os áudios que comprovam o conhecimento de ministros do Tribunal sobre a prática de tortura nos anos 1970.
A outra possibilidade era a de que se tratava de uma esquete de humor. Aquele tipo que carrega na tinta para retratar absurdos. Cheguei a considerar. Só não tinha entendido a caracterização do ator como alguém que mal consegue se expressar num português básico. Se não viu, veja. O Exército deveria gastar dinheiro com reforço escolar, incluindo aulas de alfabetização e história, e não com Viagra e prótese peniana.
Mas era tudo verdade. O episódio envolvia um servidor público do topo da hierarquia militar. O general sugere que as notícias são um complô para desmoralizar as Forças Armadas, como se isso não tivesse acontecido. Trata com absoluto desprezo as vítimas da ditadura, suas famílias e a sociedade que tem horror a esse período nefasto e quer, sim, saber, processar, julgar e punir responsáveis e coniventes.
“Não temos uma resposta para dar, simplesmente ignoramos”, disse o general. É fácil identificar nessa fala o buraco autoritário de onde saiu Bolsonaro, chefe de um governo que estabelece sigilo sobre informações de interesse público e se nega a responder questionamentos da imprensa.
Gomes Mattos diz com o maior deboche que os áudios sobre tortura não estragaram a Páscoa de ninguém. Mas ficou incomodado porque “vira e mexe” vão rebuscar o passado, seguindo a escola general Mourão de falta de empatia e negação da realidade. As Forças Armadas e seus covardes não estragam apenas a Páscoa, mas a história e a nossa frágil democracia ao tentar ignorar seu passado podre.