Creme nívea na língua

EM SABATINA do Uol, o governador Ratinho Júnior declara que confia nas urnas eletrônicas. Mas ressalva que existem outros instrumentos para aferir a legitimidade dos votos. Como o muro é largo, o governador chegou a dançar lá em cima. O muro do governador é como a Muralha da China: passa um exército inteiro por ele, duzentos guerreiros, um ao lado do outro. Aqui em baixo, na pinguela onde nos equilibramos, a gente pergunta: “quais instrumentos?”.

Ou o Uol não quis saber ou o governador não se deu ao trabalho de informar; ou porque não sabe e apenas chutou o que lhe apareceu à frente, como de hábito. A Ratinho Júnior temos que conceder o benefício da dúvida porque ele nos vende o malefício da certeza. Nosso governador é um craque em sabatinas desde que disputou o governo com Cida Borghetti. Ele chegava ao estúdio com cara de menino que saiu do banho, fresquinho, cheiroso, bem dormido e alimentado, com a lição decorada.

E Cida, sorriso amarelo, mesmo sendo governadora e presumivelmente informada do que fez, fazia ou teria que fazer no governo, era atropelada por seu ex-secretário. Nesta nova sabatina, para cumprir o dever de casa e honrar o pai, o governador apoiou as críticas (?) do parceiro Jair Bolsonaro à justiça eleitoral. Mas – sempre a ressalva da escapatória – disse que confia na justiça eleitoral. Tem que confiar, pelo menos até que Roberto Requião impugne sua possível reeleição. E chegou ao governo legitimado por essa justiça.

Sorte do governador que seus eleitores – ainda – confiam nele, apesar dos é-e-não é, pode-ser-que-sim, pode-ser-que-talvez, que repete à exaustão e conjuga em variados tempos e modos. Com tanto negaceio, logo a senhora primeira dama, espectadora privilegiada, deixará de acreditar nas juras de amor do marido. Ama ou não ama, o voto matrimonial comporta ressalvas, etc; somos casados e adversários, jamais inimigos. Ratinho parece um Álvaro Dias com pele louçã, que vende fumaça até ao espelho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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