O CASARÃO aqui ao lado de casa instalou um coworking, a cooperativa de inquilinos que dividem o aluguel. Coworking é palavra de gringo, não se impressione pensando que é importante; é apenas a divisão da pobreza. O coworking vizinho se intitula multidisciplinar. No tempo dos leitores do Insulto multidisciplinar era ensino fundamental e médio, ensinava-se de tudo. Hoje é a mistureba de atividades que podem ou não ser correlatas ou complementares. Tem o ortodontista perto do clínico, do endodontista, do maquiador de dentes, a tal lente de contato dental, que sequer enxerga quando o dente quebra com piruá de pipoca e semente de goiaba. Tem o coworking de médicos, ginecologista, clínico, cirurgião plástico, nutrólogo, psiquiatra e psicólogo. O da casa vizinha é verdadeira torre de Babel, só falta garota de programa, daquelas multidisciplinares.
O coworking associa divisão do espaço com divisão do cliente: cada profissional encontra problemas para os vizinhos tratarem. Aprendi isso na clínica da família de oculistas: do avô ao neto, passando pela mãe, conjes e conjas, cada um tirava um naco de meu olho, menos cílios e sobrancelhas. Não compro essa coisa, parece frigorífico, que aproveita até o berro do boi. Minha última experiência foi a mulher do shiatsu, a massagem oriental. Ela me virou, mexeu e encaminhou à vizinha de porta, leitora de cartas, onde enfrentei o suspense: a senhora entrou vestida de cigana, cigarro no canto da boca e um rolo de papel higiênico na mão. Em trinta anos nada que previu aconteceu. O tempo todo imaginei o que o raio da cigana tabagista faria comigo e com o papel higiênico. Inventei a desculpa que exige papel higiênico, e dei no pé.