“Dei uma aloprada”
Bolsonaro explica suas falas durante a pandemia, três anos e meio de governo. Assim, de modo singelo, espontâneo, franco e irresponsável. Explicado, perdoado, absolvido. Aloprado é doente mental, temporário ou definitivo. Portanto, é inimputável, diante da lei não pode ser punido, cumprir pena. No máximo, caso o juiz determine, ser confinado a manicômio judiciário, a prisão para infratores com doença mental. Um exemplo apenas: Adélio Bispo, o homem que o atacou com faca durante a campanha, foi aloprado naquele momento. Não recebeu pena de prisão, está confinado em estabelecimento para doentes perigosos. O laudo médico diz que Adélio continua aloprado, e portanto, continua detido. Bolsonaro quer fazer crer que foi aloprado só nas palavras, como se estas desaparecessem com a mais leve brisa. No auge da campanha, ele dirá que não é imbrochável, apenas deu uma aloprada com a distinta primeira dama.
Como sempre, não foi sincero; melhor, foi o mentiroso de sempre, pois um presidente não governa apenas com palavras, também governa com ação e inação. Durante a pandemia, Bolsonaro foi um inerte ativo, pois sua inércia impedia e bloqueava ações dos ministros da Saúde. Ou seja, foi o aloprado comissivo, como diz a lei, aquele cuja omissão impede ações decisivas, sendo por isso ações por omissão. Bolsonaro explica que só falou errado, com a pureza da criança que mente para a mãe. Fica nisso, o resto não é com ele, como se suas palavras fossem inócuas; não estimularam o negacionismo da pandemia e as terapias inadequadas que aumentaram exponencialmente a estatística de mortes. Como foi eleito com a ajuda do outro aloprado, não está no manicômio judiciário; mantém-se, quem sabe reeleito, o comandante-chefe, autoridade maior do manicômio que dirige, no qual internou milhões de brasileiros.