As pesquisas políticas mexeram no confessionalismo das celebridades. Especialmente quanto à vida sexual. É aquela história de quando, onde, quanto, de que modo. Na falta de talento e realização, tenta-se de tudo, até a sexualidade vicária pela internet (vicário é fazer alguma coisa por outro, como o vigário faz no lugar de Deus). O pornô e o Only Fans são veículos da sexualidade vicária. Ontem, na falta de pesquisas políticas e propaganda eleitoral, restaram as fofocas das celebridades, no padrão do confessionalismo sexual. Entre elas a única interessante, pela importância do personagem, foi Ronnie Von, o ex-cantor, contemporâneo da Jovem Guarda, e hoje apresentador de televisão.
Ronnie Von conta em programa de televisão que aos 78 transa toda semana (a mulher tem 67). Não só transa toda semana, mas obsequia os fãs com o número de intervenções: duas e meia. Sempre tem um repórter desatento nessas horas. Era o caso de perguntar para a senhora Von qual seu grau de satisfação com a meia transa – resguardado seu direito de ficar calada quanto às duas inteiras. A revelação não choca em si, choca por ser de quem partiu: Ronnie Von é detentor de um dos mais elevados QI da cena artística. Basta lembrar o concurso que venceu adivinhando músicas quando posto diante de um trecho mínimo das letras (outro que conseguiu o mesmo foi Chico Buarque).
Ronnie Von está caquético, esclerosado? O Insulto não chega a tanto. Ele está mais para falastrão – o primo rico do mentiroso da pescaria. Quem sabe o cantor famoso na versão de Michelle, ma belle, dos Beatles, seja eleitor oculto e envergonhado de Jair Bolsonaro, o presidente que expõe a mulher ao constrangimento de sua parlapatice sexual para ganhar votos. Retiro o que escrevi, não é caso de constrangimento: as senhoras Von e Bolsonaro são cúmplices das mentiras, pois entram gozosamente (sic) nelas quando confirmam as performances sexuais implausíveis dos maridos. Ronnie Von salva-se pela meia brochada – que ao fim e ao cabo é inteira.