Navegar, com Lula, é preciso

Votar no ex-presidente é a chance de reencontrarmos o território dos nossos sonhos

Neste domingo, vote como quem mergulha no fundo do oceano para nos resgatar de um naufrágio. Muitos navegantes, antes de nós, foram abatidos pelas tempestades, mas deixaram traçadas as rotas de navegação e o mapa-múndi dos nossos desejos de nação.

Vote por eles, construtores de Brasil, que tiveram a ousadia de projetar a pátria soberana. O país da educação e da ciência, de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e Paulo Freire. De Oswaldo Cruz e de todos os sanitaristas, de Nise da Silveira, de Milton Santos e de Josué de Castro, que apontou a chaga mais dolorosa, a fome, ainda a nos atormentar.

Vote no país de projetos interrompidos, de Getúlio, Jango e Tancredo, que, de alguma forma, foi traduzido na Constituição de 1988, sob o comando de Ulysses. O Brasil de militares heróis, sim, nacionalistas e democratas, e cito apenas dois deles, o brigadeiro Rui Moreira Lima e o capitão Sérgio Miranda de Carvalho.

A urdidura de Brasil não existiria sem os irmãos Villas-Bôas e sem a altivez que resiste em Raoni, Ailton Krenak, Davi Kopenawa e em sua recusa da miragem colonizadora, que nos reduz a rios de mercúrio, raízes arrancadas e toras desgarradas na floresta. Vamos votar como eles, que plantam árvores e protegem nascentes, para saciar nossa fome de vida.

Nossa fome de beleza vive em Pixinguinha e Cartola, Noel e Caymmi, em Tom e Vinicius, em Drummond e Amado, em Callado e João Cabral, no violão do João, em Chico e Milton, em Gil e Caetano. Sai das entranhas do Brasil na voz de Clementina. Explode na poesia de Solano Trindade: “tem gente com fome, tem gente com fome (…) se tem gente com fome dá de comer”.

Navegantes, suportamos a tormenta agarrados a pedaços da embarcação. Alcançamos terra firme, lançados de volta às praias pelas marés. Votar em Lula é a melhor chance que temos para reencontrar o território da nossa obstinação e dos nossos sonhos. Para que possamos, enfim, completar esse esboço de país.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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