Cada deus tem seus apóstolos, precisa deles. Deus pelo poder da morte, Bolsonaro teve em Damares Alves seu apóstolo; Lula, Deus por renascer dos mortos, tinha, tem e terá Gleisi Hoffmann como a pedra com que reconstruirá sua igreja. Aviso ao freguês: apóstolas ou apostolas não é só questão de acento; é também de assento, naquela esquecida definição do dicionário.
“A natureza abomina o vácuo”. Lição de Blaise Pascal no século XVII. Embora matemático, era também teólogo e a frase foi dita sobre Deus, que rejeita interposição entre o homem e Ele. Vivemos o fenômeno no Brasil desde que dois deuses entraram em luta, um puxa metade dos brasileiros para seu lado, no inferno, outro puxa a metade restante para seu lado, no céu. O gosto e o lado definem: há os que consideram Bolsonaro deus, Lula, o diabo, e vice-versa.
Como na lição de Pascal, Damares sai, Gleisi ocupa o lugar no verbo e na verba. Damares pregou o evangelho das barbaridades; Gleisi começou pregando o evangelho da briga na feira nos reinados do primeiro e segundo Lula e da primeira e segunda Dilma. Gleisi reocupa o vácuo que cedera a Damares, cheias por fora e vazias por dentro. Damares lutou ao lado de Edir Macedo; Gleisi combate o bispo milionário. O circo abomina a falta do palhaço.