Não conheço pessoalmente o curitibano Luís Henrique Pellanda, mas sempre fui seu companheiro de passeio. Acostumei-me a segui-lo em suas crônicas pelas ruas e praças da cidade. Depois, a edição impressa da Gazeta desapareceu, Luís Henrique limitou-se a escrever no jornal Plural, a que tenho pouco acesso, e nossos caminhos se desviaram. Agora, estou tendo a oportunidade de reencontrá-lo em um bem feito volume da gaúcha Arquipélago Editorial. Acabo de recebê-lo com muita satisfação, em pedido feito diretamente à editora, que, ao anunciá-lo, prometeu mandá-lo com o autógrafo do autor, mas não cumpriu a promessa. Está certo, dizia que o livro talvez viesse autografado, mas não dava garantia.
Isso, porém, não diminuiu a minha admiração pelo jovem Pellanda – que deve ter algum parentesco com o meu pneumologista, o dr. Luiz Geraldo, esse Pelanda com um ele só. Ele é o atual cronista da cidade, primeiro a partir da Ébano Pereira; depois, da Amintas de Barros. Nas suas andanças pela vizinhança, vai tomando nota dos pormenores e registrando o cotidiano da Capital e de seus personagens, a fauna e a flora que nos rodeiam e, não raras vezes, abraçam. Lembra-me um pouco do saudoso David Carneiro, que partia dos arredores da Rua Comendador Araújo para aventuras diárias pelo Centro da cidade. Mas a escrita de Luís Henrique é mais cativante, mais atual e mais humana, com o perdão do escritor e historiador que já nos deixou.
Como o velho Carneiro, Pellanda é um observador atento do dia a dia curitibano. Escreve bem e suas crônicas fazem bem ao leitor. No presente volume, são 64, escritas até a chegada da pandemia, no início de 2020. Começa com uma alarme que dispara direto, em algum ponto da quadra em que o autor mora, a qualquer hora do dia ou da noite, levando as pessoas às janelas. E termina com o desejo realizado de sua filha caçula, ao soprar as sementes de um dente-de-leão, no parquinho do Passeio Público.
Na contra capa de “Na Barriga do Lobo”, colhe-se uma amostra do talento do autor:
“Há madrugadas em que me levanto e vou à janela, sondar a escuridão do Brasil lá fora. Registro, com certa apreensão, que ela é grande e assombrada. Sei, é claro, que há vários Brasis e que, sobre cada um deles, parece espraiar-se uma escuridão específica, mais ou menos densa. Mas não. No fundo, isso está errado. A escuridão sobre nós é uma só. O que nos separa é o quinhão de luz disponível a cada brasileiro”.
Para a paulista Mariana Ianelli, que, segundo o Google, é poeta, ensaísta, cronista, crítica literária e neta do artista plástico Arcangelo Ianelli, e que assina as orelhas do livro, “Das esperanças loucas que ainda nos movem, há duas em que podemos deitar as nossas fichas sem medo de iludir-nos. Pellanda as conhece e oferece em troca da leitura deste livro: que toda crônica possa ser ‘o fim do fim do mundo’ e sempre haja uma criança para salvar o cronista”.
Nesta época pré-natalina, “Na Barriga do Lobo”, 240 páginas de talento e bom conteúdo, é uma sugestão para presentear um amigo. A amizade será fortalecida.