Gosto de escrever. Sempre gostei. Desde os tempos em que claudicava na escrita, não dominava o vernáculo e tinha vergonha de mostrar os meus escritos para os outros. Foi quando recebi um sábio conselho de meu pai: “Escreva um diário, será uma coisa só para você, que não precisará mostrar a ninguém”.
Segui o conselho e acho que ele deu certo. Prova que estou aqui, passado dos oitentinhas, e há mais de setenta colocando uma letrinha após a outra. Então, descobri que, de carreirinha em carreirinha ou em apenas uma fase, pode-se criar tanto uma obra-prima quanto arrasar reputações. Continuo claudicando, mas devido a uma artrose, e já sem tanto constrangimento de expor-me publicamente. Aliás, como bem diz mestre Zé Beto, no fundo a gente escreve para si mesmo. A leitura dos outros é uma eventual consequência, embora todo escritor escreva para ser lido.
Escrever, como ler, não é um hábito; é um prazer, uma alegria, uma realização. Que só desfruta quem é ungido pela graça divina. Tanto é que, no princípio, a leitura e a escrita eram dominadas apenas pelos poderosos da sociedade, como os escribas e os sacerdotes. Antes disso, os povos se expressavam por meio da oralidade, de símbolos e desenhos.
Uma escrita sistematizada – revela-nos o dr. Google – somente apareceu por volta de 3.500 a.C., com os sumérios, na Mesopotâmia. Inicialmente, através de registros na argila; depois, com símbolos formados por cones e, em seguida, pelos hieróglifos no Egito.
Tudo era feito manualmente, com capricho e carinho. A máquina de escrever só surgiria em 1867, pelas mãos do tipógrafo americano Christopher Sholes. Foi construída de madeira, com as teclas presas com hastes de arame, escrevendo só em letras maiúsculas. Logo, as máquinas foram se aperfeiçoando, tornaram-se elétricas e, por fim, foram substituídas pelos teclados computadorizados.
Antes disso, por volta de 1.430, uma revolução no terreno da escrita e da leitura foi desencadeada pelo alemão Johann Gutenberg, com a invenção da máquina de impressão tipográfica, que daria origem à imprensa e ao livro.
Quer dizer, levamos séculos para aprender a ler e a escrever. E agora, de uma hora para outra, a mesma tecnologia inovadora está prestes a acabar de vez com a leitura e a escrita – tudo substituído pelo novo mundo digital. Já não se fazia contas; agora, não mais se lê, não mais se escreve – a não ser de modo resumido e cifrado – e, logo, muito logo, deixar-se-á também de falar. A máquina fará tudo isso. E o mais será enviado para as calendas.
Isso tudo, é claro, entristece-me profundamente. Mas, sou obrigado a concordar que o mundo caminha ou gira. Nem sempre para melhor, mas é inevitável. Restará, para quem ficar aqui – que já não será o meu caso –, a satisfação e a glória de haver desfrutado de um tempo de grande pioneirismo e de grandes avanços no terreno da comunicação. E aí, talvez, dê-se razão para o saudoso comunicador Abelardo Chacrinha Barbosa: “Quem não se comunica, se trumbica!!
– Tereziiiiiinha!!!!