Vejo, clara, ali na frente a eternidade estendida na paisagem e sei que ela se aproxima a cada dia, a cada minuto mais e mais próxima está a eternidade.
Sei também que ela me levará daqui e então, eu nunca mais voltarei a ver meus amigos, nem meus filhos, minha mulher, minhas netas, minha cadela vira-lata, nem ninguém!
Estarei sozinho na minha eternidade. Quieto. Sem piscar. Nem respirar. Eternamente.
Eu então, não serei mais eu.
Serei um parte microscópica deste grande nada de onde viemos todos e pra onde, desfeito o nó vital, retornaremos um dia para, eternamente, não mais sermos nós.
Sabe-se da vida quase nada, do pós vida muito menos e, assim sendo, sabe-se lá o que pode vir.
O Tempo, este nosso parceiro que por toda a nossa jornada nos acompanhou, não mais fará sentido quando alcançarmos a eternidade. Não existirão calendários por lá, nem relógios, nem cronômetros, nem distâncias. Ninguém fará mais aniversários. Nem primavera e nem inverno. Nada. Só o colossal abismo do infinito e é alí, dentro do coração desse imenso cristal onde reluzem as galáxias do universo, como ínfimas luzinhas minúsculas diante do todo escuro, que está contido todo o mistério da nossa vida e da nossa morte.
CTBA / 221222