Bolsonaro lidera lista dos malas que atravancaram a vida nacional em 2022

Nomes que servem para esta época podre incluem Carla Zambelli, Padre Kelmon, Aécio, Moro, Neymar e Guedes

Dando seguimento a uma tradição ancestral, iniciada há um ano, eis os malas de 2022. A inspiração vem de Artur Xexéo, que por décadas arrolou os sem rodinha que atravancavam a vida nacional. Como chega ao fim o quadriênio em que quadrúpedes fizeram do Planalto sua estrebaria, a lista de tralhas serve para a era podre inteira.

Ibaneis Rocha. Desconhecido fora de Brasília, já a partir do nome é o governador mais feio do Brasil, quiçá da América Latina. Fez corpo mole e foi meigo com bolsonaristas que queimaram carros e ônibus. Ao ver que podia se estrepar, dançou uma polca para disfarçar que é de extrema direita.

Bananinha. O terceirogênito da famiglia orientou sua turba a clamar por um golpe na frente de quartéis —e fugiu à sorrelfa para o Qatar. Os otários tomavam chuva e ele pegava um bronze. Foi flagrado alimentando camelos com pen drives.

Micheque. Oficiou rituais de magia negra para se perpetuar como grã-sacerdotisa do Alvorada. Debalde: o Chifrudo tinha muito que fazer no Planalto. Agora precisará dos pré-datados do Queiroz para promover urucubacas. O PT cogita banho de sal grosso, descarrego, exorcismo e desratização dos palácios de Niemeyer: pé de pato, mangalô, três vezes!

Kelmon da Silva. Não pode ser chamado de padre porque foi denunciado pela CNBB e deletado pela Igreja Ortodoxa do Peru. É um picareta com duplo timbre canônico.

Tucanos. Foram tão para a direita que não souberam mais voltar para o ninho. Tentaram pegar carona numa motociata protofascista e morreram atropelados. Requiescat in pace.

Neymar. Foi um ás em ostentar, se atirar no chão e pedir pênalti, esguichar lágrimas de crocodilo e descolorir a juba murcha. Apesar de pôr no bolso US$ 55 milhões no ano, rastejou e implorou a Bolsonaro que lhe perdoasse uma dívida de US$ 1,5 milhão com o Fisco. Eles se merecem.

Carla Zambelli. Quis ser a versão feminina de Billy the Kid, mas quem nasceu para Mazzaropi nunca chega a John Wayne. Embora lhe tenham cassado a pistola, todo cuidado é pouco: tem um arsenal com peixeiras, estilingues, chicotes, canivetes, bolas de gude, foices, zarabatanas e tacapes.

Aécio. Os ingênuos pedem sua opinião sobre teto de gastos, déficit fiscal e meio ambiente. Não é a praia dele, gente. O mineirinho maneiro pode falar de cátedra, isso sim, sobre carniceiros que desovam malas de bufunfa em pizzarias —mas gravam telefonemas.

Elon Musk. É o sem alça da devoção dos listados acima e abaixo. O über-ególatra lhes serve de exemplo para as virtudes cerúleas da livre iniciativa, do tecno-turbo-capitalismo que pariu essa toupeira topetuda. Ô cara chato.

Milton Ribeiro. Esqueceu? É o pastor que foi ministro da Educação. Aquele das Bíblias com sua foto. O do bolsolão do MEC, um esquema com carolas de quinta e barras de ouro de primeira. O condenado a pagar R$ 200 mil por jurar que gays são produto de “famílias desajustadas”. Aquele que pintava o bigode: agora lembrou, né?

Moro. Quis ser o grande malandro da praça falando grosso com voz fina. Juiz inapto e ministro inepto, almejou aboletar-se no Supremo e —audácia do bofe— na Presidência. Rompeu com Bolsonaro com rugido de leão e voltou ao seu colo ronronando como um gatinho. Acabou o ano nas garras da Justiça Eleitoral.

Temer. O mordomo de filme de terror é uma unanimidade única no país polarizado. Nem Lula nem Bolsonaro quiseram seu voto. Se a Record fizer uma novela sobre o calvário do Nazareno, fará o papel do Iscariotes.

Guedes. Irascível, parece padecer de constipação crônica. Mas foram o fracasso e a presunção que fizeram dele um czar das batatadas. Se o desemprego despirocava, ficava enfezado, imitava seu capo e injuriava mulheres.Brigitte Macron e empregadas foram alvos da sua sanha.

Janaina Paschoal. A jiboia do impeachment foi tão sinuosa que deu um nó pescoço e se enforcou. Os eleitores mandaram a Medusa de volta ao Tatuapé ao som de Orlando Silva: “Tudo porém foi inútil/ Eras no fundo uma fútil”.

Bolsonaro. Buáááá! Depois de quatro anos escarrando peçonha, atolou-se num charco de choro e chorume. O mala ao quadrado deixou para o crepúsculo do mandato a revelação do ácido em ebulição no âmago de sua alma amarga: o coitadismo boçaloide. Perdeu, mané, não amola. É mau que o Mal tenha sido endeusado por quase metade da nação. Mas em verdade vos digo: que ressoem em júbilo as trombetas porque a maioria o lançou “na fornalha ardente onde haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus, 13:42).

Feliz ano novo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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