Três perguntas para Vinicius do Valle Doutor em Ciência Política pela USP e diretor do Observatório Evangélico, ele diz que pastores evangélicos e cantores gospel participaram das invasões do dia 8 de janeiro às sedes dos três Poderes e compõem uma célula extremista que considera estar “salvando o Brasil”.
1. O que os evangélicos tiveram a ver com a invasão em Brasília? “A aliança entre setores evangélicos e o bolsonarismo é antiga. Recentemente, eles se tornaram um público muito notável nas manifestações antidemocráticas que bloquearam rodovias, produziram acampamentos em frente a quartéis e, agora, invadiram os três Poderes. Mas os evangélicos não estão sozinhos nessa. Nos acampamentos em frente a quartéis do Exército, circulam muitas mensagens de gente dizendo que recebeu psicografias de personagens como Olavo de Carvalho, Dom Pedro II e Tancredo Neves pedindo o apoio da sociedade a Bolsonaro. Isso mostra que tem um setor do espiritismo envolvido nesse meio. E é comum também vermos cenas de acampados portando imagens de Nossa Senhora. Existe essa performance católica de extrema-direita e um misticismo difuso entre esses radicais.”
2. Quem são os evangélicos-terroristas? “São simples fiéis ou líderes de instituições pequenas. Alguns são também influenciadores digitais com muitos seguidores, como o pastor Sandro Rocha, que “profetizou” que os manifestantes iriam livrar o país do comunismo e que disse ter tido revelações mostrando que o Exército iria para as ruas junto do povo. Pessoas como ele encorajaram os atos de 8 de janeiro.”
3. Como se sabe que havia tantos evangélicos entre os invasores? “Pelos vídeos é possível ver muita gente conhecida. Estavam ‘in loco’, por exemplo, os pastores Thiago Bezerra, Mari Santos, Ricardo Martins e César Moisés. Dá para ver nas imagens também cantores gospel como Salomão Vieira, Michele Nascimento, Fernanda Oliver e Wesley Ros.
Eles estão lá, invadindo e orando, falando em línguas e transmitindo tudo ao vivo. Isso pode parecer uma grande burrice — cometer um crime e mostrar o rosto—, mas mostra o quão convictos eles estavam de que o que faziam era correto. Consideram estar salvando o Brasil numa missão divina e se veem enquanto heróis. Isso é uma característica dos movimentos extremistas. Os talibãs, no Afeganistão, também cometem atrocidades em nome do bem. E não se veem como extremistas.”.