Entendeapiadaedevolveumamelhoraindassexual

Reforço a importância de novos termos sexuais em português

Acho que o Brasil não precisa desses nomes em inglês que dão ares de internacionalidade e modernidade a pilantragens sexuais que já estão no mercado desde que Adão culpou Eva por ter perdido a cabeça. Daqui a pouco vão inventar que o primeiro homem criado por Deus era shedrivesmecrazyssexual.

Ghosting, que é quando o parceiro ou a parceira desaparece sem fazer você se arrumar toda para levar um pé na bunda comendo empanadas caríssimas, e stashing, que é quando você é tudo na vida da pessoa desde que esteja sempre pelada e não queira conhecer os amigos mais íntimos e os parentes mais próximos do consorte, são expressões que farão sujeitos péssimos acreditarem que têm grife e passaporte internacional. Deveríamos chamá-los do que são, e em bom português: “covardesgraçados” e “quando tô de quatro é fácil, quero ver me amar na festinha infantil da sua sobrinha”.

Primeiro eu achei que estava velha demais para levar a sério os termos demissexual e sapiossexual. A saber, pessoas que só transam a partir de um envolvimento emocional ou psicológico e que precisam que o parceiro ou a parceira seja minimamente inteligente. Bem, eu preciso dessas coisas todas desde que comecei minha luta para convencer rapazes de que valho a pena –apesar de a minha mãe ter me dito, no meu aniversário de 34 anos, que para o tanto que sou difícil eu teria que ser bem mais gostosa.

Mas a real é que, embora eu seja uma late majority (só entro na moda depois que fica muito chato não entrar e não saber o que é late majority), já entendi que o Brasil adora e precisa desses termos, e as revistas e redes sociais estão amando essa febre de “sou alguma coisa óbvia sexual” para explicar gostos meio óbvios sexuais. Então gostaria de reforçar a importância de criá-los em português, pois estamos justamente no Instagram escrevendo decolonial e não decoloniality.

Entendeapiadaedevolveumamelhoraindassexual;

Nãotemmaisidadeprafazerviagemsemconfortossexual;

Assisteafilmefrancêssemreclamareaindacomentadepoisssexual;

Nãoalagabanheiropratomarumsimplesbanhinhossexual;

Chupamesmosuadasemnojinhossexual;

Nãoestáeternamenteperdidoprofissionalmentessexual;

Nãoseincomodacomosucessodamulherssexual;

Nãoécasadocomamãeoucomopaioucomaexmulherssexual;

Nãoéinfluencerssexual

Temtesãoemcorpodemulherquetrabalhahorasnocomputadorssexual;

Nãotratacachorrocomofilhossexual;

Nãoassistebigbrotherbrasilssexual;

Nãotemtatuagemdepalhaçossexual;

Nãopintaocabelodeacajussexual;

Nãotemharmonizaçãofacialssexual;

Chorounapossedolulanahoradarampassexual;

Nãoéprogressistazinhofakedepinheirosmaspuxatapetedemulherssexual;

Nãoficaviolentinhocomportasdearmárioquandotáfrustradinhossexual.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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